
O presente trabalho tem por objetivo investigar o gene NR3C1, que codifica os receptores de Glicocorticoide (GCs), em indivíduos com COVID-19.
Material e MétodosForam analisadas 58 amostras de pacientes com COVID-19, atendidos em hospitais do município de Uberaba – MG entre maio de 2020 a junho de 2021. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A amostra foi agrupada de acordo com o desfecho (alta ou óbito) e gravidade da doença (leve, moderada ou grave). A determinação de gravidade dos casos foi realizada segundo os critérios estabelecidos no Manual de Manejo Clínico da COVID-19 da Organização Mundial de Saúde. Foram coletados um tubo de 04 mL de sangue periférico na admissão do paciente e a quantificação relativa do gene NR3C1 foi realizada por PCR em tempo real, utilizando o equipamento 7500 (Applied Biosystems™). O gene ACTB foi utilizado como controle endógeno. Os dados quantitativos foram submetidos ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov e as comparações estatísticas entre dois grupos realizadas com emprego do teste de Mann-Whitney. A significância estatística foi definida como p<0,05.
ResultadosA idade mediana dos pacientes foi de 64,5 anos (min. 29, máx. 100 anos). Dos 58 pacientes analisados, 26 eram mulheres e 32 homens. Em relação ao desfecho, 31 obtiveram alta (17 mulheres 14 homens) e 27 evoluíram para óbito (9 mulheres e 18 homens). Em relação a gravidade, 13 pacientes tiveram quadro clínico leve (07 mulheres e 06 homens), 16 moderado (08 mulheres e 08 homens) e 29 grave (11 mulheres e 18 homens). Não foi observada diferença estatisticamente significativa na expressão do gene NR3C1 quanto ao desfecho ou gravidade (p=0,49 e p=0,25, respectivamente).
DiscussãoAcredita-se que a genética humana tenha um importante papel na determinação da resposta clínica ao SARS-CoV-2, no entanto, o estabelecimento dos mecanismos genéticos envolvidos na suscetibilidade ou resistência à infecção ainda não são completamente conhecidos. Os GCs inibem rapidamente a transcrição de citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6. Essa citocina, por sua vez, está envolvida num fenômeno denominado “tempestade de citocinas”, em que há uma exacerbação da resposta imunológica. Na COVID-19 as manifestações de doença grave e morte não se apresentam exclusivamente pelos danos induzidos pelo vírus nos pulmões, mas também devido aos níveis elevados de citocinas, particularmente IL-6, que podem ser inibidas por GCs. Apesar do presente estudo não ter observado diferença na expressão do gene NR3C1 em relação ao desfecho e gravidade, os receptores de GCs tem importante desempenho na supressão da “tempestade de citocinas”. Além disso, já foi demonstrado que o uso de glicocorticóides em doses baixas e médias por até oito dias é seguro e benéfico para pacientes com COVID-19 grave.
ConclusãoO presente estudo conclui que não há relação entre a expressão do gene NR3C1 com o agravamento ou pior desfecho em pacientes com COVID-19.