
descrever o perfil epidemiológico de doadores de sangue atendidos no hemocentro do Amazonas (HEMOAM), além de verificar a frequência de doadores de sangue positivos para malária no KIT NAT PLUS HIV/HBV/HCV/MALÁRIA BIO-MANGUINHOS , e investigar se doadores de sangue NAT-MALÁRIA positivos desenvolvem malária clínica posterior a doação.
Material e métodosEstudo observacional retrospectivo que utiliza dados secundários registrados na plataforma HemoSys, sendo eles variáveis sociodemográficas, informações sobre triagem clínica e histórico de malária dos doadores de sangue atendidos no HEMOAM. Foi utilizado o Sistema Nacional de Notificação de Malária (SIVEP-MALÁRIA) para investigar casos de malária sintomática entre os doadores NAT-MALÁRIA positivos, 6 meses antes e 6 meses depois da doação. Os dados foram analisados utilizando os softwares Microsoft Excel e GraphPad prism v.9. O estudo foi aprovado pelo CEP com o CAAE nº74332523.8.0000.0009.
ResultadosNo período de janeiro/2023 e fevereiro/2024 foram realizadas 75.027 doações de sangue no HEMOAM. Foi avaliado um banco de dados com 55.030 doadores de sangue, atendidos pelo HEMOAM nesse período de 13 meses, e que foram testados pelo Kit NAT-PLUS. Os doadores tiveram média de idade de 35,4 anos (DP = 11,2) e a maioria é do sexo masculino (65,3%). A capital Manaus o local de residência mais frequente entre os doadores (93,2%). Os fenótipos sanguíneos ABO e Rh mais frequentes foram O+ (59,3%) e A+ (24,4%). Sete indivíduos (0,009%) foram positivos para malária na testagem pelo Kit NAT-PLUS, e 1 deles (14,3%) desenvolveu malária clínica por Plasmodium falciparum posterior a doação, de acordo com a investigação no SIVEP-MALÁRIA. Quanto ao perfil dos doadores NAT-POSITIVOS, verificou-se que 6 (85,7%) são do sexo masculino, 71,4% (5/7) possuem sangue tipo O+, todos são naturais do Estado do Amazonas e 57,1% (4/7) tiveram NAT-MALÁRIA positivo na sazonalidade de aumento de transmissão da doença, os meses de janeiro e fevereiro. Nenhum dos doadores positivos para malária apresentou coinfecção com outros alvos detectados pelo NAT-PLUS (Hepatites B/C e HIV).
DiscussãoEm áreas endêmicas para malária é sabido que portadores assintomáticos da infecção por Plasmodium contribuem para a manutenção da transmissão da doença. Os 7 indivíduos NAT-MALÁRIA positivos estavam assintomáticos no momento da doação e a triagem clínica anterior a coleta de sangue não considerou esses indivíduos como inaptos à doação. Após a detecção da infecção pelo NAT-PLUS, as bolsas de sangue infectadas foram retidas. Cerca de 14% desses doadores NAT-MALÁRIA positivos desenvolveram malária sintomática posterior a doação de sangue, confirmando que as infecções detectadas pelo NAT nem sempre permanecem assintomáticas, podendo cursar com parasitemias moderadas e que, se não detectadas, poderiam afetar a saúde dos receptores do hemocomponente.
Conclusão: Este estudo revelou que uma parcela dos doadores NAT-MALARIA positivos pode desenvolver malária clínica dentro de 6 meses após a doação de sangue, contribuindo morbidade da doença na região. Enfatiza-se a importância da plataforma NAT-PLUS na qualidade do hemocomponente transfundido e na diminuição da ocorrência de casos de malária transfusional. Espera-se aumentar o período analisado e a obtenção de outras variáveis epidemiológicas dos doadores de sangue da Amazônia, buscando aprimorar os resultados encontrados.