HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hemofilia, distúrbio hereditário da coagulação, impõe ao paciente desafios clínicos e psicossociais que transcendem o manejo médico. O medo de sangramentos, a hospitalização recorrente e as restrições físicas impactam a autoestima, a adesão ao tratamento e a qualidade de vida. Nesse contexto, a Psicologia no âmbito hemoterápico atua não apenas no acolhimento emocional, mas também na criação de espaços terapêuticos capazes de promover autonomia, resiliência e engajamento. As atividades lúdicas configuram um recurso estratégico, potencializando a expressão emocional, o enfrentamento adaptativo e a integração social.
ObjetivosAvaliar o impacto de uma intervenção psicológica lúdica no bem-estar emocional, no engajamento social e na percepção de autocuidado de pacientes hemofílicos atendidos em um Hemocentro do Nordeste do Brasil.
Material e métodosEstudo de caráter qualitativo-descritivo, realizado no primeiro semestre de 2024, com 20 pacientes diagnosticados com hemofilia A ou B, em acompanhamento regular no Hemocentro. A intervenção consistiu em uma oficina lúdico-terapêutica estruturada em três eixos: (1) jogos cooperativos adaptados à limitação física individual; (2) dinâmicas expressivas com uso de artes visuais para representação simbólica da hemofilia e do autocuidado; e (3) roda de conversa mediada pela equipe de psicologia para construção coletiva de estratégias de enfrentamento. As sessões tiveram duração de 90 minutos e ocorreram em ambiente seguro e adaptado. A avaliação qualitativa foi feita por meio de observação participante, registro de falas e aplicação de escala de humor pré e pós-atividade.Observou-se aumento imediato nos indicadores de humor positivo em 85% dos participantes. O engajamento durante as dinâmicas foi classificado como alto em 90% dos casos, com relatos espontâneos de maior sensação de pertencimento e diminuição da ansiedade relacionada ao tratamento. Pacientes relataram que a atividade favoreceu novas perspectivas sobre a hemofilia, com fortalecimento da rede de apoio entre pares. Além disso, identificou-se que a abordagem lúdica facilitou a adesão ao diálogo sobre práticas seguras, prevenindo riscos de sangramento.
Discussão e conclusãoOs achados corroboram evidências recentes (2023–2024) que apontam a ludicidade como mediadora eficaz no manejo de condições crônicas, por estimular vínculos terapêuticos, reduzir barreiras comunicacionais e favorecer a internalização de condutas de autocuidado. Em hemofilia, esse formato de intervenção rompe o modelo exclusivamente biomédico, integrando dimensões emocionais e sociais ao tratamento. Essa prática, aplicada em ambiente hemoterápico, revela-se custo-efetiva e replicável em diferentes realidades do Sistema Único de Saúde (SUS).A intervenção psicológica com uso de atividade lúdica demonstrou-se uma estratégia efetiva para promover bem-estar emocional, coesão social e adesão ao tratamento em pacientes hemofílicos. Recomenda-se sua incorporação regular na rotina assistencial de hemocentros, aliada ao acompanhamento longitudinal para mensuração de benefícios sustentados.
Referências:
Fornari CC, et al. Impact of Haemophilia on Patients and Caregivers: The Brazilian Perspective. Haemophilia. 2024;30(3):e168-e177.
Schneider MM, et al. Clinical-Epidemiological Profile, Disease Burden and Patient Journey of People with Haemophilia in Brazil: A Scoping Review. Orphanet Journal of Rare Diseases. 2024;19(1):145.




