
Descrever a experiência com uso de inibidor de BCL-2 em paciente pediátrico para tratamento de LLA-B recaída após uso de inibidor de proteassoma, CAR-T e TMO alogênico.
Material e métodosMasculino, 6 anos, diagnóstico de LLA-B comum de alto risco, tratado pelo protocolo GBTLI 2009, SNC-1. DRM D15 positiva, DRM D35 negativa. Seguiu tratamento com o mesmo protocolo, evoluindo para recaída combinada (medular e SNC) durante a fase de manutenção em agosto/22. Solicitado blinatumumabe via SUS, negado. Indicado BFM 2002 - progressão de doença (PD). Iniciado protocolo TACL com bortezomibe - PD. Submetido à linfocitoaférese para tratamento com células CAR-T e realizado terapia ponte com POMP até a infusão - resposta completa após CAR-T (RC). Perda de aplasia de células B e DRM positiva 64 dias após CAR-T. TMO alogênico aparentado compatível (condicionamento VP/TBI), com recaída 6 meses pós TMO em SNC, orbitária e linfonodal, com biópsia compatível com linfoma B de alto grau com duplo rearranjo dos genes (MYC e BCL-2). Paciente com lansky 90, recebeu 3 FLAGs com adaptações de dose. Paciente manteve infiltração liquórica. Como alternativa terapêutica, utilizou-se citarabina (15 mg/m²) + inibidor de BCL-2 (venetoclax:100mg/m²) + voriconazol - RC (medular, SNC e linfonodal). Não apresentou eventos adversos pelo uso do venetoclax. Indicado segundo TMO, no entanto evoluiu com PD (órbita + SNC) após 1 mês. Atualmente segue em radioterapia paliativa.
DiscussãoA LLA-B é o tipo de câncer mais frequente em pediatria, com taxa de cura de 80 a 90%. No entanto, a sobrevida nos casos recidivados e refratários é de poucos meses a despeito de alternativas terapêuticas como imunoterapia, TMO e células CAR-T. O tratamento de novas recaídas após tais terapias são extremamente desafiadoras. Neste caso, devido ao resultado de biópsia indicando rearranjo de BCL-2 e refratariedade à diversas terapias prévias, foi indicado o uso do inibidor de BCL-2 associado a citarabina, apresentando resposta completa, embora por período curto, com qualidade de vida satisfatória do paciente. Os inibidores de BCL-2 vêm sendo utilizados em diversos estudos em associação à quimioterapia em doenças hematológicas refratárias como leucemia e linfomas. Neste caso, acreditamos que a resposta satisfatória associou-se ao fato de tal medicação ter penetração em sistema nervoso central.
ConclusãoO uso da terapia com inibidor de BCL-2 em doenças hematológicas refratárias como leucemia e linfomas se tornou factível nos últimos anos, com resultados em pediatria ainda em andamento. Este caso desafiador ilustra a possibilidade do uso em vida real de casos selecionados de leucemias e linfomas pediátricos.