
A Leucemia Mieloide Aguda (LMA) é uma doença caracterizada pela proliferação de células precursoras mieloides que, apesar de estacionarem o desenvolvimento, continuam exercendo seu potencial de replicação livremente. Assim, ocorre seu acúmulo na medula óssea e eventualmente infiltração no sangue periférico e em outros tecidos extramedulares (2%-10% dos casos de leucemia). Entre os acometimentos extramedulares, há a infiltração cutânea - uma manifestação rara e indicativa de prognóstico avançado da leucemia.
ObjetivoRelatar caso de infiltração cutânea secundária à Leucemia Mieloide Aguda Subtipo M5.
Relato de casoPaciente de sexo feminino, 54 anos, admitida em ambiente hospitalar para realização do primeiro ciclo de quimioterapia (QT) referente ao tratamento de LMA M5 com daunorrubicina e arabinosídeo-C. Apesar da redução do número de leucócitos (de 41.660/mm3 para 3.000/mm3 após três dias da infusão) – demonstrando o efeito da terapia sobre a proliferação clonal e o acúmulo de células –, evoluiu com insuficiência respiratória aguda, associada ao surgimento de nódulos e escaras dolorosos distribuídos difusamente pelo corpo e progressão para óbito no 3ºdia após o início do tratamento quimioterápico.
DiscussãoAs manifestações cutâneas em pacientes com leucemia aguda incluem um espectro que varia desde de dermatoses pela doença, infecções secundárias, efeitos relacionados às drogas usadas no tratamento e infiltração leucêmica. Nesse contexto, a avaliação clínica e dermatológica detalhada, com identificação dos casos sugestivos de infiltração blástica extramedular cutâneo-mucosa é determinante para o manejo e seguimento desses pacientes. Isso porque elas podem apresentar diferentes morfologias, tornando-as assim de difícil diferenciação clínica e histopatológica das lesões cutâneas não específicas, as quais tendem a ocorrer mais frequentemente. Após a suspeita, o diagnóstico do tipo de infiltração deve ser confirmado com realização de exame histopatológico e imunohistoquímico para melhor distinção entre elas. Isto pois a célula neoplásica na pele é menos suscetível à ação dos quimioterápicos, associando a leucemia com infiltração secundária a um pior prognóstico e maior recorrência.
ConclusãoA suspeita clínica e o diagnóstico oportuno do acometimento cutâneo secundário na LMA são etapas essenciais no seu manejo adequado e constituem um desafio da especialidade, tendo em vista o cenário de pior prognóstico. Para tanto, cabe destacar a necessidade e a relevância de proceder estudo anatomopatológico e imunohistoquímico em casos pertinentes após julgamento clínico adequado, no intuito de obter confirmação diagnóstica e assegurar intervenção segura e precoce.