
Investigar a incompletude dos registros de óbitos por anemia aplástica do Sistema de Informação sobre Mortalidade, no Brasil, 2000 a 2020.
Material e MétodosTrata-se de estudo com delineamento epidemiológico descritivo, exploratório, com análise de informações contidas no Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). O acesso aos dados foi realizado por meio do site do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram considerados os óbitos por anemia aplástica (categoria D61 - Outras anemias aplásticas, segundo a 10ªClassificação Internacional de Doenças - CID-10), em residentes no Brasil, no período de 2000 a 2020. Para a avaliação da incompletude considerou-se a frequência relativa em percentual de valores nulos (dados ignorados) no preenchimento das variáveis sexo, faixa etária, estado civil, escolaridade, e raça/cor, presentes na declaração de óbito e disponíveis no SIM/DATASUS. Posteriormente as variáveis foram classificadas segundo sua incompletude, conforme proposto por Romero e Cunha (2006): excelente (menos de 5%), boa (5 a 10%), regular (10 a 20%), ruim (20 a 50%), muito ruim (50% ou mais).
ResultadosForam identificados 15.327 óbitos por anemia aplástica, com destaque para sexo masculino (50,3%), faixa etária 70 a 79 anos (17,9%), casados (34,2%), 1 a 3 anos de estudo (20,3%) e brancos (53,4%). Quanto a incompletude, observou-se os seguintes percentuais: 0,01% para sexo, 0,07% para idade, 10,2% para estado civil, 29,2% para escolaridade e 6,4% para raça/cor. Sendo assim, no período, as variáveis sexo e idade foram classificadas como excelente, raça/cor como boa, estado civil como regular e escolaridade como ruim.
DiscussãoA anemia aplástica é uma doença hematológica rara, podendo ser de origem hereditária ou adquirida. Entre as causas adquiridas estão o uso de medicamentos, doenças autoimunes, agentes físicos e químicos. Por apresentar alta letalidade, o levantamento do perfil epidemiológico dos óbitos pode contribuir para a compreensão da etiologia da doença. A incompletude foi maior para escolaridade, classificando seu preenchimento como ruim, seguido de estado civil, como regular e raça/cor como boa. Estas variáveis podem estar relacionadas à variações regionais no acesso aos serviços de saúde, bem como capacidade de compreensão de informações em saúde, interferindo no conhecimento sobre a doença, possibilidade de diagnóstico precoce e posterior tratamento. O presente estudo utiliza dados do SIM, a principal fonte de dados sobre mortalidade no Brasil. No entanto, a melhoria da qualidade do preenchimento da declaração de óbito ainda é um desafio. A qualificação de profissionais que realizam estas atividades, com participação das secretarias de saúde, bem como o Ministério da Saúde, é fundamental para que o planejamento de ações de monitoramento e prevenção desta doença não seja afetado.
ConclusãoNo Brasil, entre 2000 e 2020, o preenchimento do registro de óbitos, com anemia aplástica como causa básica, apresentou qualidade razoável. O preenchimento ruim e regular de importantes variáveis sociodemográficas demonstra a necessidade da implantação de estratégias que contribuam para a melhoria da qualidade dos sistemas de informação em saúde e, consequentemente, melhores ações de prevenção e assistência aos brasileiros diagnosticados com a doença.