HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é uma das principais estratégias curativas para doenças onco-hematológicas. Contudo, a recaída da doença de base permanece como a principal causa de insucesso terapêutico. Entre os mecanismos de escape imunológico, destaca-se o HLA loss, caracterizado por dissomia uniparental adquirida com cópia neutra, resultando na perda do haplótipo de HLA herdado do doador. Inicialmente descrito em transplantes haploidênticos, também ocorre em transplantes aparentados ou não aparentados com incompatibilidade. Estudos indicam que até 1/3 das recaídas em transplantes haploidênticos e cerca de 8% nos não aparentados incompatíveis podem decorrer de HLA loss. Sua identificação impacta diretamente condutas como a indicação de infusão de linfócitos do doador (DLI) ou a escolha de novo doador para retransplante.
ObjetivosDemonstrar a aplicação da genotipagem HLA como ferramenta na investigação de HLA loss, com ênfase no isolamento prévio das células de interesse. Apesar do reconhecimento crescente na literatura, o exame permanece subutilizado na prática clínica e raramente incluído na rotina de investigação de recaídas. Tal cenário reforça a necessidade de maior conscientização nos centros transplantadores e de interação precoce entre equipes clínicas e laboratoriais para otimizar a solicitação e viabilidade do teste.
Material e métodosNo período de 2022 a 2025, foram investigados 23 casos de pacientes submetidos a TCTH que evoluíram com recaída e suspeita de mecanismo de HLA loss. As análises foram realizadas em sangue periférico ou aspirado de medula óssea, com isolamento das células de interesse por seleção com microesferas magnéticas anti-CD34 ou por citometria de fluxo com ordenamento celular (Fluorescence-Activated Cell Sorting – FACS). Posteriormente, realizou-se tipagem HLA em média ou alta resolução.
Discussão e conclusãoDos 23 casos avaliados, três recaídas foram associadas a HLA loss: dois em transplantes haploidênticos e um em transplante não aparentado incompatível. A identificação de HLA loss revelou-se essencial na elucidação da recaída imunológica, visto que pacientes com perda do HLA do doador apresentam baixa resposta à DLI devido ao escape da vigilância imunológica mediada por células T. A identificação precoce evitou terapias ineficazes e permitiu redirecionar condutas, como seleção de novo doador ou uso de terapias celulares específicas. Observou-se maior frequência de HLA loss em contextos de intensa pressão imunológica, como em transplantes haploidênticos, em concordância com dados da literatura. A incorporação da pesquisa de HLA loss nos protocolos de investigação de recaídas representa um avanço relevante na medicina personalizada no TCTH. Sua adequada aplicação depende de comunicação estreita entre equipes clínica e laboratorial, garantindo coleta no momento ideal e pré- requisitos técnicos, como presença de blastos e caracterização imunofenotípica das células-alvo. A investigação de HLA loss deve ser considerada uma ferramenta diagnóstica essencial na avaliação de recaídas pós-TCTH. Sua detecção precoce evita terapias ineficazes e direciona estratégias mais assertivas. A interação clínico-laboratorial é fundamental para assegurar a viabilidade técnica do exame, que é capaz de impactar decisões terapêuticas, objetivando melhor desfecho possível em uma população de alto risco e cenário prognóstico geralmente reservado.




