
A pandemia de COVID-19 alterou a dinâmica de conservação dos enxertos e de realização dos transplantes alogênicos de células progenitoras hematopoiéticas (TCPH alogênico). O TCPH, além de ser um procedimento de alta complexidade, também conta com altos custos, sendo necessário uma gestão eficiente dos recursos financeiros.
ObjetivosAvaliar o impacto econômico na rotina de criopreservação do enxerto alogênico no INCA durante a pandemia de COVID-19.
Material e métodosForam avaliados 38 produtos criopreservados durante o período pandêmico (mar/2020 a dez/2021) e o custo relativo ao processo foi comparado ao período pré-pandemia (mar/2018 a dez/2019) (13 produtos). Posteriormente, foi verificado o impacto financeiro gerado em função da orientação do Ministério da Saúde. Dentre os insumos utilizados no processamento de CPH no INCA, há produtos usados somente na criopreservação, que se utiliza Dimetilsulfóxido (DMSO) (99,9%), Hidroxietilamido (HES) (16,6%) e Albumina (20%) no produto fonte de células progenitoras hematopoiéticas (CPH), com concentrações finais de, respectivamente, 5%, 6% e 2%. Posteriormente, o produto é transferido para uma Bolsa de Criopreservação (100 mL) e resfriado em um freezer -80°C. Os dados relativos aos custos dos insumos foram obtidos por meio do sistema de administração hospitalar (ABSOLUT). Os valores foram obtidos em real e convertidos para a cotação do dólar do respectivo ano. A flutuação do valor dos insumos foi calculado usando a razão dos valores do período pré-pandemia (2019/2018) e pandemia (2021/2020). Utilizando o software GraphPad Prism 7® foi feita a análise estatística por Two-way ANOVA.
ResultadosNão houve diferença estatística nos custos ligados à criopreservação, se comparado os períodos pandêmico e pré-pandemia, devido à flutuação observada nos valores entre todos os itens. No entanto, o custo total com criopreservação no período pandêmico foi 2,6 vezes maior que o período pré-pandemia analisado. A bolsa de criopreservação obteve aumento de 21%. Já o valor dos itens DMSO, albumina e HES apresentaram redução de 39%, 30% e 25%, respectivamente. No ano de início da pandemia (2020) o custo de uma criopreservação era de US$ 650.23 enquanto o valor registrado em 2019 era de US$ 915.25, ou seja, o ano de início da pandemia não reflete completamente o impacto da mesma nos preços dos itens. Porém, com a extensão da pandemia em 2021, observamos o custo total no valor de US$ 911.52, sugerindo um aumento no valor final do procedimento, puxado pelo aumento do preço da bolsa de crio.
ConclusãoOs custos com criopreservação no período pandêmico foram 2,6 vezes maiores que no período de pré-pandemia. Os gastos com insumos podem ser interpretados como um consumo justificado como medida de prevenção de infecção por COVID-19, orientada pelo MS. Por outro lado, a criopreservação recomendada de produtos CPH alogênicos pode impactar na sobrevida dos pacientes submetidos a esse tipo de transplante, além de tal recomendação ser considerada um fardo financeiro e uma carga de trabalho substancial para o laboratório, já que o aumento desse tipo de procedimento durante a pandemia de COVID-19 gera procedimentos adicionais, como descongelamento de CPH, que também consome uma quantidade considerável de tempo de funcionários.