HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA triagem sorológica para sífilis é essencial na seleção segura de doadores de sangue, prevenindo a transmissão transfusional. O teste não treponêmico VDRL vinha sendo amplamente utilizado, mas a introdução do teste treponêmico por quimioluminescência (CMIA) prometia maior sensibilidade e especificidade.
ObjetivosDescrever a transição do VDRL para o CMIA na triagem para sífilis em doadores do Hemoacre e avaliar o impacto dessa mudança no descarte de bolsas.
Material e métodosEstudo observacional retrospectivo no Hemocentro Coordenador do Acre, entre dezembro de 2019 e novembro de 2024. Dados do sistema HEMOVIDA, analisando metodologia e resultados dos testes para sífilis em doadores. Organizados em cinco intervalos anuais, os dados foram analisados no Excel. Utilizou-se o teste qui-quadrado para comparar proporções de bolsas descartadas antes e após a introdução do CMIA, e calculou-se Odds Ratio (OR) com Intervalo de Confiança (IC) de 95%. Significância em p < 0,05.
ResultadosDe dez/2019 a nov/2020, 10.842 exames, todos VDRL, 1,61% reativos. De dez/2020 a nov/2021, 12.879 exames, todos VDRL, 2,09% reativos. De dez/2021 a nov/2022, 11.701 exames, todos VDRL, 1,77% reativos. De dez/2022 a nov/2023, 12.160 exames (99,12% CMIA), 2,23% reativos e 0,09% inconclusivos. De dez/2023 a nov/2024, 13.106 exames, todos CMIA, 1,53% reativos e 0,11% inconclusivos. Comparando pré e pós-CMIA, o qui-quadrado indicou ausência de diferença significativa no descarte (χ² = 1,248, p = 0,264), OR=1,07 (95% IC 0,95–1,20).
Discussão e conclusãoAté novembro de 2022, todos os testes no Hemoacre usavam floculação (VDRL). A partir de dezembro de 2022, adotou-se predominantemente a quimioluminescência (CMIA). Essa transição resultou em discreto aumento absoluto de resultados inconclusivos, inexistentes antes, totalizando 25 casos (< 0,1%), com impacto mínimo na triagem. No primeiro ano com CMIA (2022/2023), a taxa de reatividade subiu para 2,23%, possivelmente devido à maior sensibilidade do teste treponêmico, que consegue detectar a infecção de forma mais precoce, e também permanece reativo mesmo após tratamento e cura clínica da doença. No ano seguinte, a reatividade caiu para 1,53%. Essa queda pode ser consequência direta do efeito de depuração da população de doadores, uma vez que a coorte com infecção passada foi identificada e indeferida no primeiro ano. A superioridade do CMIA não se resume à sua sensibilidade, sua maior especificidade em comparação ao VDRL, que é mais sujeito a falsos positivos (doenças autoimunes, gravidez), garante uma triagem mais precisa e segura. Como resultados reativos e inconclusivos implicam descarte, avaliou-se o impacto: OR = 1,07 (95% IC 0,95–1,20), indicando chance 7% maior de descarte após CMIA, porém sem significância estatística (χ² = 1,25, p = 0,264). Os nossos dados evidenciaram que não houve impacto quanto ao rendimento de hemocomponentes. Um estudo realizado no estado brasileiro de Santa Catarina (2013), evidenciou uma redução de 50% nas taxas de falso-positivos utilizando o CMIA como triagem inicial. Além disso, alguns estudos mostraram que o CMIA melhora a acurácia da triagem, contribuindo para maior segurança transfusional. Foi concluído que a substituição do VDRL pelo CMIA na triagem para sífilis no Hemoacre não aumentou significativamente o descarte de bolsas. O CMIA aprimora a acurácia do exame e contribui para maior segurança transfusional, sem impacto relevante na disponibilidade de hemocomponentes.




