HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA flebotomia terapêutica é parte essencial do tratamento de várias doenças, especialmente aquelas associadas à sobrecarga de ferro. Atualmente, nas instituições brasileiras, não se faz rotineira a dosagem do ferro e seus metabólitos, nos períodos de seguimento dos pacientes entre as sangrias. Esta avaliação poderia ser relevante para contribuir para a adoção de uma estratégia mais assertiva e adequada para cada indivíduo, e assim, gerar melhores resultados para os pacientes.
ObjetivosComparar parâmetros laboratoriais após sangrias terapêuticas em pacientes com hiperferritinemia.
Material e métodosTrata-se de um estudo primário, observacional, longitudinal prospectivo de coorte, no qual foram incluídos pacientes com indicação e prescrição para sangrias terapêuticas. A amostra foi composta 38 pacientes com hiperferritinemia atendidos no Hemocentro Regional de Uberaba, em Uberaba/MG no período de outubro de 2024 a junho de 2025. Foram avaliados os valores de exames laboratoriais como hemograma completo, vitamina B12, ácido fólico, testes de metabolismo do ferro de função hepática no dia do procedimento de flebotomia e 15 dias depois.
ResultadosEm relação à série vermelha no hemograma, observou-se um aumento nos níveis de volume corpuscular médio e hemoglobina corpuscular média nas mulheres (p = 0,0401 e p = 0,0394, respectivamente) no segundo momento de análise. Já nos homens, houve uma redução significativa de número de hemácias (p < 0,0001), hemoglobina (p = 0,0008), hematócrito (p < 0,0001) e RDW (p < 0,0001). A análise conjunta revelou uma diminuição significativa na contagem de leucócitos totais (p = 0,0033), mas não houve variação substancial no número de plaquetas. Em relação aos exames relacionados ao metabolismo do ferro, os valores de ferro sérico diminuíram nos homens (p = 0,0165), mas não diferiram nas mulheres. A capacidade total de combinação do ferro aumentou nas mulheres (p = 0,0277) e a capacidade latente de ligação do ferro aumentou tanto em homens quanto mulheres (p = 0,0070 e p = 0,0061) após o procedimento. O índice de saturação da transferrina e a dosagem de ferritina reduziram significativamente nos homens (p = 0,0027 e p < 0,0001) e nas mulheres (p = 0,0210 e 0,0312). Na coorte avaliada, houve uma redução significativa dos níveis de fosfatase alcalina (p = 0,0451), enquanto as dosagens de ácido fólico, vitamina B12, transaminase glutâmico oxalacética, albumina, bilirrubina total e frações, gamaglutamil transferase e desidrogenase lática não variaram significativamente após a sangria.
Discussão e conclusãoA flebotomia terapêutica, essencial no tratamento da sobrecarga de ferro, demonstrou neste estudo um impacto significativo em diversos parâmetros laboratoriais aqui avaliados. Alterações nos marcadores de metabolismo do ferro, como a redução da ferritina e do índice de saturação da transferrina, confirmam a eficácia do procedimento. Os resultados também evidenciam uma resposta hematológica seletiva, com redução em parâmetros da série vermelha nos homens. A falta de monitoramento rotineiro desses parâmetros nas instituições brasileiras reforça a necessidade de uma avaliação seriada, que permitiria uma gestão clínica mais assertiva e individualizada. A flebotomia terapêutica impactou significativamente os exames laboratoriais. Embora os resultados não tenham sido comparados a valores de referência, eles ressaltam a importância do monitoramento contínuo entre as sessões.




