HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosNeoplasias mieloproliferativas (NMPs) compreendem um grupo de neoplasias oncohematológicas caracterizadas por desordens clonais das células-tronco hematopoiéticas, associadas à inflamação crônica e ao escape imunológico. A enzima indoleamina 2,3-dioxigenase 1 (IDO1) se torna relevante nesse contexto, por sua atividade na depleção do triptofano gerando metabólitos imunossupressores, as quinureninas. Estudos em diferentes neoplasias demonstram que a expressão do gene IDO1 pode ser modulada por alterações epigenéticas e variantes genéticas na região promotora, região fundamental para a regulação transcricional, contribuindo para a progressão neoplásica e pior prognóstico. Todavia, há uma escassez de estudos que relacionam essas variantes no contexto das neoplasias mieloproliferativas.
ObjetivosAnalisar evidências científicas sobre o papel imunorregulador do gene IDO1 e sua potencial associação à imunogenética das neoplasias mieloproliferativas.
Material e métodosO estudo caracteriza-se como uma revisão narrativa da literatura científica realizada nas bases científicas: PubMed, Scielo e Google Acadêmico, utilizando os descritores “IDO1”, “polymorphisms”, “immune evasion”, “myeloproliferative neoplasms” e “promoter region”. A busca considerou artigos publicados entre 2015 e 2025, com ênfase em estudos que abordam a regulação genética de IDO1, sua atuação imunológica em cânceres, incluindo neoplasias mieloproliferativas e possíveis correlações clínicas. Foram incluídos estudos originais experimentais e revisões redigidos em inglês, sendo excluídos relatos de caso e opiniões de especialistas. Ao todo, 40 artigos foram analisados, dos quais 15 atenderam aos critérios de inclusão e 25 foram excluídos.
Discussão e conclusãoOs estudos analisados destacam a atuação imunossupressora da IDO1 em diferentes tipos de câncer, incluindo tumores sólidos e leucemias. Foi observada a presença de variantes funcionais na região promotora do gene IDO1, associadas à modulação da expressão gênica, atividade enzimática reduzida e à supressão da resposta imune antitumoral. No entanto, não foram encontrados estudos que investiguem essas variantes em neoplasias mieloproliferativas, evidenciando uma lacuna na literatura. O IDO1 destaca-se como mediador-chave da evasão imune em neoplasias. Na leucemia mieloide aguda, sua superexpressão induz apoptose de células T efetoras, eleva os níveis de quinurenina e promove expansão de Tregs, favorecendo um microambiente tumoral tolerogênico. Em tumores sólidos, como câncer de pulmão e mama, alterações epigenéticas modulam sua expressão: a hipermetilação da região promotora, observada em tumores luminais ER+, associa-se à menor expressão e menor atividade imunossupressora do eixo IDO1–Kyn–AhR, enquanto a hipometilação de sítios CpG específicos (cg10262052, cg08465774) relaciona-se à maior expressão, ativação de vias imunológicas (T CD8+, processamento de antígenos, citotoxicidade, MHC-HLA) e enriquecimento de checkpoints, configurando um perfil imunorreativo com imunossupressão adaptativa. Esses achados sugerem que alterações genéticas e epigenéticas na IDO1 possam igualmente influenciar o microambiente das neoplasias mieloproliferativas, promovendo evasão imune, inflamação crônica e progressão da doença. Considerando a natureza inflamatória das NMPs e a função central da IDO1 na imunomodulação, a elucidação desse eixo imunogenético pode contribuir para a identificação de potenciais biomarcadores e para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas personalizadas.




