
Os aloanticorpos antieritrocitários são produzidos em resposta a transfusões, gestações, transplantes e exposição a proteínas bacterianas ou drogas. Estes anticorpos são pesquisados em doadores de sangue a fim de evitar a transfusão de produtos plasmáticos contendo anticorpos em receptores que possuem o respectivo antígeno, podendo levar à hemólise. No entanto, existem anticorpos anti-eritrocitários naturais, como o anti-M e o anti-Le que não dependem de exposições prévias e na maioria das vezes não são clinicamente importantes. Assim, uma investigação retrospectiva no Hemocentro de Ribeirão Preto foi realizada com o objetivo de comparar e analisar esses anticorpos anti-eritrocitários de doadores masculinos e femininos.
Materiais e métodosEste trabalho teve como base informações coletadas do sistema SBS do Hemocentro de Ribeirão Preto.
ResultadosEntre julho de 2021 e julho de 2023 foi realizada a pesquisa de anticorpos irregulares (PAI) em 188.114 doadores de sangue e 493 apresentaram PAI positiva. Os doadores são em média 58% do sexo masculino e 42% do sexo feminino. Dentre eles, 153 homens apresentaram PAI+ (0,12%) e 340 mulheres (0,36%) com uma diferença significativa (p<0,001, 2-Sample % test, Minitab Statistical Software®). A especificidade dos anticorpos irregulares mais comuns entre os homens são o anti-M (21,57%), anti-E (19,61%), anti-D (16,99%), anti-Dia (11,11%), anti-K (8,5%), anti-Lea (3,92%) e anti-Leb (1,31%), enquanto nas mulheres o anti-D (35,88%), anti-M (13,24%) anti-E e anti-C (12,35%), anti-Dia (5,29%), anti-K (4,41%), e anti-Lea (1,76%).
DiscussãoA taxa de desenvolvimento de aloanticorpos é maior em mulheres que em homens devido à exposição durante as gestações.O anticorpo anti-D é mais frequente em doadoras, provavelmente devido à aloimunização durante a gestação de mulheres RhD negativas causado pela demora da implementação da imunoglobulina profilática no Brasil. Os anticorpos clinicamente importantes mais frequentes nos dois grupos são os do sistema Rh devido à sua alta imunogenicidade. Os anticorpos anti-eritrocitários mais frequentes em doadores do sexo masculino é o anti-M que normalmente não é desenvolvido pós exposição. A presença dos anticorpos anti-Dia nos dois grupos pode ser explicada pela prevalência maior desse antígeno na população brasileira que em outras populações, causando maior exposição. Apesar da técnica utilizada na PAI de doadores não incluir incubação em temperatura ambiente, vários anticorpos que reagem a frio foram detectados.
ConclusãoDo total de doações no período, 0,26% apresentaram PAI positiva. Conforme o esperado, a taxa de aloimunização é maior em mulheres. As doadoras também apresentaram mais anticorpos clinicamente importantes que os homens. Os principais anticorpos clinicamente importantes encontrados foram os do sistema Rh demonstrando a imunogenicidade desses antígenos.