HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA hipereosinofilia é definida pela contagem de eosinófilos persistentemente superior a 1.5 × 10^9/L no sangue periférico. Esta condição pode associar- se a dano tecidual e diversas etiologias como doenças alérgicas, parasitárias, autoimunes, hematológicas e farmacodermias. A síndrome hipereosinofílica idiopática configura um diagnóstico de exclusão.
Descrição do casoHomem de 56 anos, com antecedente de transplante cardíaco por miocardiopatia chagásica, em uso de imunossupressores - tacrolimus, micofenolato e prednisona - foi internado por quadro de dispneia com piora de classe funcional e tosse produtiva. A investigação inicial evidenciou hipereosinofilia e adenomegalia generalizada de natureza indeterminada, bem como derrame pleural moderado e unilateral. A análise do líquido pleural mostrou exsudato rico em linfócitos (38%) e eosinófilos (14%); sem detecção de células linfóides atípicas à imunofenotipagem. A propedêutica medular revelou série granulocítica hipercelular com eosinofilia (25,5%), sem alterações displásicas. O paciente recebeu tratamento antiparasitário empírico à admissão e foram pesquisadas e excluídas infecções virais, fúngicas e micobacterioses. Foi realizada biópsia de linfonodo inguinal, cujo anatomopatológico e imunohistoquímica mostraram proliferação vascular e positividade para Herpes Vírus Humano 8 compatíveis com sarcoma de Kaposi.
ConclusãoO sarcoma de Kaposi é uma neoplasia originada no endotélio dos vasos sanguíneos e linfáticos, que guarda estreita relação com HHV-8 em todas as suas formas. A doença classicamente acomete pacientes imunossuprimidos, como os infectados pelo vírus HIV na fase AIDS e os transplantados de órgãos em uso de imunossupressores. A associação entre hipereosinofilia e sarcoma de Kaposi pode ser explicada pelo aumento dos níveis circulantes de imunoglobulina E¹. A potente ativação de mastócitos e eosinófilos via IgE é descrita na literatura médica como um componente do microambiente inflamatório observado na proliferação angiovascular do sarcoma de kaposi. O caso clínico descreve uma apresentação hematológica e incomum do sarcoma de Kaposi. Ainda não é totalmente compreendida a relação entre a hipereosinofilia e esta neoplasia, mas a resposta parece fundamentar-se nas alterações inflamatórias que contribuem para a fisiopatogênese da doença.
References:
Bagga et al (J Infect Dis 2015; 212:1093–9). Journal of Infectious Diseases, v. 214, n. 10, p. 1612–1612, 31 ago. 2016. SHOMALI, W.; GOTLIB, J. World Health Organization and International Consensus Classification of eosinophilic disorders: 2024 update on diagnosis, risk stratification, and management. American journal of hematology, v. 99, n. 5, p. 946–968, 29 mar. 2024. LAGE, S. L. et al. Inflammasome activation in patients with Kaposi sarcoma herpesvirus (KSHV)-associated disorders. Blood, v. 144, n. 14, p. 1496–1507, 28 jun. 2024.




