Introdução: A hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) é um raro distúrbio adquirido da medula óssea. Ocorre por uma mutação do gene PIG-A (fosfatidilinositol glicano classe A), responsável pela síntese de moléculas que ancoram as proteínas CD59 e CD55 à membrana do eritrócito. A ausência dessas proteínas suscetibiliza os eritrócitos à lise pelo sistema do complemento. A doença caracteriza-se por anemia hemolítica intravascular com tendência à trombose, embora o quadro clínico geralmente seja pouco específico. A associação com leucopenia, trombocitopenia ou ambas, sinaliza uma insuficiência da medula óssea, e pode auxiliar na diferenciação do quadro de anemia. O diagnóstico definitivo consiste na imunofenotipagem pela citometria de fluxo, demonstrando a escassez das proteínas CD55 e CD59. Apresentamos o caso de uma paciente feminina de 40 anos, com apresentação típica da doença. Relato do caso: Paciente feminina de 40 anos, refere fadiga há 1 ano, de início insidioso e acompanhada de palidez. Há 5 meses, teve episódios de colúria, de frequência irregular e exacerbada quando associada à infecção sistêmica. Os exames laboratoriais revelaram uma anemia (Hb 10,5g/dL) com anisocitose (RDW 16,1%), associada a leucopenia (4.300) e trombocitopenia (124.000). O EQU mostrou presença de hemoglobina livre (+++). O diagnóstico diferencial foi feito através da dosagem de ácido fólico, vitamina B, ferritina e eletroforese de proteínas. Com esses exames normais, foi realizada a biópsia de medula óssea, a qual apresentou hipoceluraridade, com maturação e arquitetura hematopoieticas preservadas. A confirmação de HPN foi obtida através da imunofenotipagem, que demonstrou a não expressão de CD55 e CD59 em cerca de 35% dos eritrócitos. A paciente iniciou anti-coagulação para profilaxia de trombose venosa e foi orientada a realizar transfusão sanguínea nas exacerbações. O transplante de medula óssea alogênico com irmão HLA-compatível permanece como alternativa se houver agravamento da doença. Foi sugerida terapia com antagonista do complemento C5, Eculizumab; no entanto, apesar de disponível no sistema de saúde mediante ação judicial, a paciente ainda não teve acesso ao medicamento e tampouco pôde arcar com seu ônus integral. Discussão: Na hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) o achado mais comum é anemia normo-macrocítica. Geralmente há fraqueza, dispneia e palidez e, menos frequentemente, icterícia, colúria, dor abdominal e trombose. Dentre as complicações trombóticas, predomina a trombose venosa (30 a 40% dos casos). No caso, a paciente apresentou fadiga, palidez e colúria. Tais sintomas inespecíficos acabaram dificultando o diagnóstico, já que não houve evento tromboembólico que necessitou investigação. O tratamento é escolhido conforme as particularidades do paciente, sendo a transfusão de hemocomponentes e a reposição de ácido fólico e ferro muito comuns. Alguns pacientes podem se beneficiar da terapia profilática, sendo o Eculizumab o medicamento de escolha, embora o acesso ainda seja limitado. O transplante de medula óssea é o único tratamento curativo disponível, porém está associado a altas taxas de morbimortalidade. Conclusão: O diagnóstico foi desafiador. Após uma difícil investigação, fez-se o diagnóstico de HPN, a qual possui um tratamento complexo e de alto custo.
Informação da revista
Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 7-8 (novembro 2020)
Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 7-8 (novembro 2020)
12
Open Access
HEMOGLOBINÚRIA PAROXÍSTICA NOTURNA: RELATO DE CASO CLÍNICO COM PANCITOPENIA
Visitas
5088
D.R. Almeida, L.M. Cichota, L.M. Bottega, L.V.P. Silva
Universidade de Passo Fundo (UPF), Passo Fundo, RS, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Texto Completo