
As infecções fúngicas representam um importante desafio quando relacionadas a pacientes imunocomprometidos. Os fungos do gênero Fusarium sp. estão presentes no solo, água e plantas, sendo que ocasionalmente podem infectar humanos. A fusariose é a segunda causa mais comum de infecções fúngicas nos pacientes imunossuprimidos. Os receptores de transplante autólogo de medula óssea não costumam apresentar alto risco de desenvolver esse agravo, principalmente devido à imunossupressão menos intensa quando em comparação ao transplante alogênico, no entanto, casos já foram descritos.
ObjetivoRelatar caso clínico referente à fusariose invasiva após transplante autólogo de medula óssea.
MétodosOs dados foram obtidos após revisão do prontuário.
Caso clínicoC.L.F, 36 anos, sem comorbidades prévias, diagnóstico em 2021 de Linfoma Difuso de Grandes Células B, subtipo ABC, EC IV. Realizada primeira linha com R-CHOP seguida por radioterapia mediastinal por persistência de doença em pericárdio. Evoluiu com progressão de doença dois meses após radioterapia. Realizadas linhas de tratamento subsequentes: 2ª linha com R-DHAOx, progressão após segundo ciclo e 3ª linha com pembrolizumabe associado à ICE. Após o sexto ciclo foi realizado PET/CT que evidenciou aumento do hipermetabolismo glicolítico em partes moles, realizadas biópsias que descartaram acometimento pela doença onco-hematológica, sendo então considerado como evento imunológico secundário ao uso do inibidor de checkpoint e iniciada corticoterapia. Foram realizados três ciclos adicionais com pembrolizumabe em monoterapia e encaminhada para transplante autólogo de medula óssea em resposta completa. Realizado condicionamento com Benda-EAM e infusão de células progenitoras periféricas em 19/07/2023, apresentou enxertia neutrofílica no D+14. Após ATMO evoluiu com complicações infecciosas, iniciando em 08/08/2023 quadro de lesões cutâneas necróticas disseminadas e sinusite com lesão de septo nasal, as quais sugeriam componente fúngico. Biópsias da pele e do septo nasal resultaram em dermatose linfo-histiocitária com focos supurativos, compatível com a hipótese clínica de fusariose invasiva. Apesar do tratamento com anfotericina B lipossomal e voriconazol, a paciente apresentou piora clínica relacionada ao acometimento pulmonar pela infecção fúngica, evoluindo à óbito em 20/09/2023.
DiscussãoPacientes que apresentam neutropenia prolongada são de alto risco para fusariose invasiva. Foram descritas em estudos prévios incidências globais de 6/1000 casos relacionados a transplantes alogênicos e 1.5-2/1000 casos relacionados a transplantes autólogos. Ademais, é necessário levar em consideração o risco de infecções fúngicas associado ao uso de inibidores de checkpoint, tanto pela necessidade de associação de corticoterapia para controle de eventos imunológicos quanto pela linfopenia e neutropenia que podem causar. O prognóstico da infecção no contexto de transplante de medula óssea é muito pobre, principalmente por não haver tratamentos com altas taxas de sucesso. Apesar do desafio para o tratamento, foram alcançados bons resultados com uso de anfotericina B lipossomal e antifúngicos triazólicos. Apesar disso, discute-se que as medidas preventivas são mais importantes que a terapia antifúngica.
ConclusãoÉ incomum a apresentação de fusariose invasiva em pacientes pós transplante autólogo de medula óssea, no entanto, quando ocorre, apresenta importante desafio clínico.