
O presente trabalho objetivou determinar a prevalência do Traço Falcêmico (TF) nos doadores de sangue do Hemocentro Regional de Sobral (HRS), no período de 01/01/2020 a 31/12/2021, considerando a heterogeneidade étnica da população brasileira em suas diversas regiões.
Material e métodosRealizado estudo documental e retrospectivo dos doadores de sangue do HRS triados no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemocentro Coordenador) e confirmados por meio de cromatografia líquida de alta performance (HPLC), utilizando como fonte de informação, registros e dados do Sistema de Bancos de Sangue SBS-Web.
ResultadosNo período estudado, este HR obteve 32.348 doações de sangue total e, dentre este quantitativo, 480 (1,48%) doadores apresentaram TF (HbAS).
DiscussãoExistem dois relevantes motivos para justificar a realização da triagem de hemoglobina S nos doadores de sangue dos Hemocentros que beneficiam simultaneamente o doador e o receptor. Com relação ao receptor, como o TF é prevalente, assim como a Anemia Falciforme (AF), a possibilidade de encontrar um receptor de sangue com essas características hereditárias é muito elevada, o que diminuiria a eficácia da transfusão, justificando as restrições do uso de Concentrado de Hemácias com HbS nos pacientes com hemoglobinopatias, acidose grave, hipotermia, recém-nascidos e em procedimentos cirúrgicos com circulação extra-corpórea. O benefício ao doador, quando se realiza triagem para HbS, é a identificação de outros familiares assintomáticos com TF e o aconselhamento genético, uma vez que a detecção de indivíduos heterozigotos é de extrema importância para a saúde pública, pois, além de possível fonte de heterozigotos, podem originar indivíduos homozigotos que manifestam uma forma clínica grave e, portanto, necessitam de tratamento precoce. É imperioso lembrar que temos a obrigação de transmitir a orientação adequada aos portadores do TF, que devem conhecer sua herança genética, salientando a necessidade de treinamento dos profissionais de saúde responsáveis por esta orientação, uma vez que ela pressupõe a correta informação genética, sem mitos ou omissões. Abordagens impróprias podem levar à estigmatização, que é a criação arbitrária de uma identidade social negativa.
ConclusãoOs dados encontrados no presente estudo foram compatíveis com vários estudos realizados na população do Estado do Ceará, confirmando que a distribuição da frequência da HbS não é homogênea na população brasileira. O conhecimento desta prevalência é relevante também para a questão do aconselhamento genético, como preconiza a legislação vigente, o que exige da Instituição uma organização satisfatória nos fluxos de atendimento ao doador para receber este público.