
A transfusão de sangue é um recurso terapêutico de grande importância para pacientes com doença falciforme (DF). Entre as complicações associadas às transfusões de sangue, a aloimunização a antígenos eritrocitários é frequente, associando-se à ocorrência de reações hemolíticas pós-transfusionais. Pacientes com DF são susceptíveis à ocorrência de reações transfusionais hemolíticas tardias ou Hiperhemólise (RHPTH), de gravidade bastante heterogênea. Em casos extremos, há redução dos níveis de hemoglobina em relação aos pré transfusionais, denotando a ocorrência de destruição de eritrócitos próprios do paciente, além dos transfundidos, por via não totalmente esclarecida. A predição de ocorrência de RHPTH graves permite a realização de profilaxia com administração pré-transfusional da droga rituximab. Há poucos estudos em literatura que exploraram os fatores de risco clínico para ocorrência de RHPTH.
ObjetivosDeterminar quais são os fatores clínicos associados à ocorrência de RHPTH em pacientes com DF.
MétodosTrata-se de estudo caso-controle tendo como fonte os pacientes cadastrados na coorte do Estudo Longitudinal Multicêntrico da Doença Falciforme – REDS-III, de 2013 a 2018, em quatro centros brasileiros: Hemominas, Hemope, Hemorio e ITACI – Instituto de Tratamento do Câncer Infantil. Nas análises preliminares identificamos 31 casos de pacientes já transfundidos em algum momento da vida que apresentaram RHPTH. Foram obtidos quatro controles para cada um dos casos. Os grupos foram comparados em termos sociodemográficos, epidemiológicos, laboratoriais e clínicos. As análises foram realizadas no programa R versão 4.0.5 e foi considerado significativo p < 0,05.
ResultadosA ocorrência de RHPTH não se associou às características sociodemográficas e epidemiológicas avaliadas, e nem ao genótipo DF. Os resultados laboratoriais não diferiram entre aqueles que apresentaram ou não o desfecho. Os pacientes que tiveram reação hemolítica apresentaram maior proporção de anticorpos irregulares (p = 0,004), internação por crise de dor (p = 0,007), além de transfusão no último ano e maior quantidade de unidades transfundidas na vida (p = 0,041 e p = 0,011, respectivamente).
Discussão/ConclusãoOs resultados que encontramos até o momento corroboram com os descritos na literatura. A descrição dos preditores clínicos para ocorrência de RHPTH será de suma importância para servir como base em pesquisas futuras.