
Identificar os fatores associados às recorrências das crises álgicas acometidas pela Anemia Falciforme (AF) em pacientes pediátricos a partir de uma concepção clínica e familiar.
Materiais e métodosRealizou-se revisão de literatura nas bases PubMed e LILACS, com os descritores “anemia falciforme”, “criança” e “crise vaso-oclusiva”. Ao todo, foram encontrados 119 artigos, dos quais apenas 8 eram condizentes com os objetivos da pesquisa.
ResultadosAs vulnerabilidades das condições socioeconômicas (CSE) - entre nível médio e baixo e escolaridade dos pais variando entre fundamental completo e ensino médio - influenciam negativamente no manejo das crises álgicas. A literatura revisada relatou que cerca de 50% dos casos de crise dolorosa vaso-oclusiva (CVO) eram do sexo masculino, com idades entre 1 ano e 3 meses e 12 anos, com média de 6 anos e 7 meses. As reinternações ocorreram geralmente mais de 30 dias após a alta. A principal causa desencadeante e prolongadora da CVO foi a detecção de um foco infeccioso. A dor não era localizada, sem sinais ou focos infecciosos, com características nociceptivas e neuropáticas, sendo esta última pior. A crise álgica afetou quase 71% dos indivíduos e a recorrência de infecções afetou mais de 50%.
DiscussãoA condição socioeconômica exerce impacto direto no tratamento e acesso aos cuidados de saúde para crianças com AF. A baixa escolaridade dos responsáveis e a insegurança financeira implicam em falta de suporte nutricional adequado, resultando na maior dificuldade em lidar com as demandas impostas pelas consequências da doença, como as crises álgicas. As crises tornam-se relativamente difíceis de serem identificadas à medida que a idade da criança diminui, uma vez que não há capacidade cognitiva ou mesmo vocabulário para afirmá-la, sendo necessário percebê-la por demonstrações de desconforto, choro, irritabilidade e mesmo por alteração dos sinais vitais. A CVO é a principal complicação aguda em pacientes com AF, causando internações frequentes. Os principais desencadeantes foram infecção, exposição ao frio, trauma local e desidratação. A duração média da internação é relevante, afetando o afastamento da escola e do trabalho, custos e complicações hospitalares. O atraso na busca por atendimento e o tempo prolongado de espera implicam em um controle ineficiente da dor e adiam o término da crise. Além disso, a deficiência no apoio emocional prestado às crianças com AF durante a hospitalização, somados à dor causada pela AF e ao estresse proporcionado pelos procedimentos médicos e de enfermagem, tendem a dificultar o tratamento e a causar danos em aspectos psicológicos.
ConclusãoDestaca-se a importância do suporte nutricional e condições socioeconômicas adequadas para o tratamento de crianças com AF. Condições vulneráveis estão associadas à maior busca tardia por atendimento, levando a internações prolongadas, tornando necessário melhorar o acesso aos serviços de atendimento. Infecções foram comuns como desencadeante das crises, que também apresentaram recorrências. Abordagens que incluem conscientização e acesso eficiente à saúde podem melhorar a qualidade de vida desses pacientes. O controle da dor por meio de tratamento não farmacológico, como diálogo e apoio emocional, também é necessário para reduzir o impacto da hospitalização sobre a criança.