
O Brasil é o maior produtor e consumidor de agrotóxicos mundial, desde 2009. O país sem leis rígidas para uso e controle de pesticidas, favorece o acesso e a comercialização. A leucemia é o tipo mais comum de neoplasia em crianças, sobretudo a leucemia linfoide aguda (LLA) e a leucemia mieloide aguda (LMA). Este estudo tem por fim investigar a relação entre a expansão da soja no Brasil, o uso de pesticidas e a ocorrência de cânceres infantis, com foco completivo nos riscos ocupacionais dos pais e seu uso doméstico.
Material e métodosFez-se uma revisão bibliográfica nas bases de dados PUBMED, BVS e CAPES, através dos descritores “child”, “pesticide”, “leukemia” e “exposure”. A busca na BVS foi refinada para incluir só ensaios clínicos, enquanto nas bases PUBMED e CAPES a seleção foi dirigida a estudos com eixo na mostra ocupacional parental a pesticidas e, risco de evolução de leucemia infantil. Analisou-se ensaios clínicos e revisões sistemáticas com meta-análise. No total, foram encontrados 49 artigos, dos quais 13 foram selecionados para análise detalhada.
ResultadosDas análises, 76,92% indicaram uma relação entre o desenvolvimento de leucemia infantil e a exposição pré-natal a pesticidas, já 38,46% evidenciaram a exposição perinatal. Assim, 15,38% dos estudos não citaram o tipo de câncer mais prevalente associado a essa exposição; entretanto, 84,61% dos estudos indicaram uma maior dominância de leucemia linfoide aguda (LLA) e 61,53% referiram leucemia mieloide aguda (LMA). Só dois artigos investigaram a relação entre o sexo e doença, evidenciando uma diferença de 4% na incidência entre meninos e meninas, com uma leve dominância para meninos. Observou-se que os basilares cenários de exposição eram conexos à exposição parental a pesticidas, particularmente no ambiente ocupacional (N = 7). Outrossim, quatro artigos destacaram a gravidade da exposição devido à proximidade residencial a áreas de uso de pesticidas.
DiscussãoAfere-se que a exposição a pesticidas, resultante da expansão da soja, causou o avanço de cânceres, como a leucemia aguda infantil. Observou-se que o uso doméstico de inseticidas e, pulverização em áreas conexas durante a gravidez ou amamentação elevam o risco de leucemia, com maior incidência entre meninos. Os produtos domissanitários, com mesmo princípio ativo dos pesticidas agrícolas, são vendidos sem controle. Assim, a exposição e intoxicação ocorrem tanto em áreas urbanas quanto rurais. A contaminação ocorre por: manejo, água, alimentos contaminados, solo, ar, e contato direto e animais tratados com pesticidas. Além de lesar órgãos específicos, eles podem interagir com moléculas, como DNA, RNA e proteínas. Ainda que os mecanismos de mutação exijam mais estudos, há evidências de resíduos achados no sangue do cordão umbilical, no mecônio e no próprio recém-nascido.
ConclusãoBaseado nos dados, concluiu-se que a exposição parental a pesticidas, de uso doméstico ou agrícola, pode ampliar as chances de ampliar leucemia infantil. Também, constatou-se que todos os tipos de exposição, preconcepção pré-natal ou na primeira infância, estão associados ao desenvolvimento de leucemia linfoide aguda (LLA).