Desde que foram implantados os métodos de quantificação das células progenitoras hematopoéticas CD34+ por citometria de fluxo, as diferenças de análises interlaboratorias têm sido demonstradas. A análise em produtos criopreservados para uso terapêutico no transplante de células hematopoéticas promove adicionalmente maiores discrepâncias. O estabelecimento de consensos interlaboratorias pode contribuir para reduzir as diferenças metodológicas. O Grupo Brasileiro de Citometria de Fluxo (GBCFlux) tem em sua missão propostas de padronização interlaboratorial de diversos exames na área da Hematologia. Neste trabalho propusemos reunir dados de laboratórios que fazem a análise pré e pós criopreservação das células CD34+ por citometria de fluxo em produtos utilizados no Transplante de Células-Tronco Hematopoéticas (TCTH).

Foram selecionados para uma avaliação retrospectiva dados de amostras utilizadas em TCTH de diferentes centros do Brasil. Participam da pesquisa as seguintes Instituições: HUCFF, Hospital Erasto Gaertner, HLA/UERJ, Cetebio, Sollutio, Hospital Amaral Camargo, CHC, Prócelula, UNESP, HIAE, INCA, HEMOCE, Medcel, HEMOSC, Hemocentro Unicamp e ACCG. Os dados foram requisitados a partir de questionário eletrônico e compilados em tabela única para análises. Foram incluídos até o momento nesse estudo 84 amostras, sendo que todas foram de produto de aférese. Os programas de análise utilizados pelos grupos foram: CellQuestTM, FACSDivaTM, FlowJoTM e BD FACSCanto ClinicalTM. Todas as amostras avaliadas foram criopreservadas em freezer mecânico ou em congelador programável. As viabilidades celulares foram avaliadas por citometria de fluxo, com uso do corante 7AAD.

Ao todo os grupos enviaram 84 amostras para avaliação. Dos centros que reportaram dados, 38 amostras foram originalmente avaliadas em plataforma única e 46 em plataforma dupla. Quanto ao percentual de viabilidade das células nucleadas totais descongeladas, somente 63 valores foram reportados. A mediana percentual da viabilidade das células nucleadas totais descongeladas foi de 78,03% (36,70%–99,99%), frente a 99,17% (84,18%‒99,99%) das células pré congelamento. Quando comparado o percentual das células CD34+dos mesmos produtos pré e pós congelamento, os valores reportados mostraram mediana de 0,52% (0,16%–2,57%). A diferença entre os dois grupos foi estatisticamente significativa (p-valor < 0,0139). Quanto a viabilidade somente das células CD34+ pré e pós congelamento, obtivemos mediana de 88,44% (44,97%‒98,47%). Observou-se que na obtenção dos resultados, as estratégias de análise variaram com pelo menos 5 templates diferentes utilizados.

A análise da viabilidade das células CD34+ pós congelamento consiste em um critério importante da qualidade do produto que é utilizado no transplante. Os dados pré analíticos e analíticos são objeto de estudo nesse trabalho.

Existe redução da viabilidade do produto descongelado em relação ao pré congelamento. O coeficiente de variação no produto descongelado é maior do que em produto pré congelamento. As variáveis de processamento e análise que mais impactam na variabilidade dos resultados serão melhor avaliadas ao longo desse estudo.