
A transfusão de sangue é um método terapêutico que salva vidas e contribuiu para recuperação da saúde e bem estar. Sua aplicação envolve o risco de Reações Transfusionais (RTs) cuja severidade varia podendo ocasionar óbito. Desse modo, é fundamental reconhecer e tratar as RTs, além de indicar procedimentos profiláticos que evitem sua ocorrência. Faz-se necessário estimular a notificação das possíveis RTs, para então avaliar o cenário e redesenhar processos assegurando a segurança transfusional. No Brasil, contamos com o sistema de notificação da Vigilância Sanitária, NOTIVISA, que desde sua criação mostra um crescente aumento no número de notificações, embora a subnotificação ainda seja uma realidade devido a falta de informação, recursos tecnológicos e, também a falsa ideia de que a notificação possa resultar em punição.
ObjetivoAvaliar as RTs no Grupo GSH no período de Janeiro/2020 a dezembro/2022 e, comparar com o NOTIVISA e SHOT (Serious Hazards of transfusions).
Material e métodosEstudo retrospectivo e descritivo no qual foram avaliados o total de RTs, sua incidência em relação a quantidade de hemocomponentes transfundidos e, também o tipo de hemocomponente envolvido.
ResultadosNo Grupo GSH foram contabilizadas 3177 RTs entre Janeiro/2020 e dezembro/2022. As 5 RTs mais frequentes foram, nessa ordem: alérgica, Reação Febril Não Hemolítica (RFNH), outras reações imediatas, sobrecarga Circulatória Associada à Transfusão (TACO) e aloimunização eritrocitária. Estas totalizaram em 2020 844 (96,24%), em 2021 1039 (96,20%) e em 2022 1193 (97,79%). O Índice de reações transfusionais notificadas/1000 hemocomponentes transfundidos no Grupo GSH foi em 2020 4,43; em 2021 3,03 e 3,35 em 2022. O Concentrado de Hemácias (CH) foi o mais comumente envolvido nas RTs com 61,74% seguido pela plaqueta (CP) 32,12%. No mesmo período, foram reportadas no NOTIVISA, 45768 RTs sendo as 5 mais frequentes: RFNH, alérgica, outras reações imediatas, TACO e aloimunização eritrocitária. Estas perfazem 96,06% de todas as RTs notificadas em 2020, 95,35% em 2021 e 95,78% em 2022. A reação mais frequente nesse período foi a RFNH seguida pela alérgica. Pelos dados disponíveis, só foi possível calcular o índice de reações transfusionais notificadas no NOTIVISA por 1000 hemocomponentes transfundidos no ano de 2020 e, esse foi 8,59. Já no SHOT, que é um sistema de hemovigilância bastante sedimentado, as RTs mais frequentes em 2022 foram: reação febril/alérgica/hipotensiva (294), TACO (160) e reação pulmonar não TACO (52) que englobam (TRALI e dispnéia associada a transfusão). Em 2020 e 2021 o cenário se repete, exceto pelo fato de que nesses anos a reação hemolítica aguda foi mais frequente do que a reação pulmonar não TACO. Neste, no ano de 2022, CH permanece sendo o hemocomponente mais frequentemente associado a RTs com 63,09% seguido pelo CP com 23,20%.
DiscussãoA RFNH e alérgica são as mais frequentes. No SHOT aparecem RTs como dispnéia isolada e hipotensão que ainda são pouco frequentes no dados brasileiros. O hemocomponente mais associado a RT é o CH, seguido pela plaqueta, possivelmente por serem também os mais transfundidos. As RTs classificadas como “outras” ainda são muito frequentes apesar dos esforços educacionais.
ConclusãoOs dados do Grupo GSH espelham a realidade brasileira, com exceção do índice de reações transfusionais/1000 hemocomponentes transfundidos que é maior no NOTIVISA. Esse fato poderia ser explicado pelo uso de protocolos hemoterápicos como filtragem, irradiação e fenotipagem muitos difundidos no Grupo GSH, mas que não são a realidade de outros serviços. Porem é preciso sempre avaliar a possibilidade de subnotificação e criar ciclos de melhoria que reduzam a chance de sua ocorrência.