
Os Anticorpos do sistema ABO são considerados imunoglobulinas IgM potente que podem estar associados com IgG ou IgA. Estes anticorpos ABO podem fixar o complemento de forma eficiente, geralmente IgM ou associação com subclasses IgG1 e IgG3, podendo causar reação hemolítica transfusional de forma leve a fatal. As técnicas aplicadas para determinação do título final de anticorpos IgM e IgG podem não ser significativas para a avaliação de anticorpos envolvidos ao risco de hemólise mediada por complemento. Existem técnicas especificas que podem ser utilizadas para avaliar a reatividade imunológica, tais como, a técnica clássica de hemolisina, o ensaio de monocamada de monócitos (MMA) e de citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC), no entanto, esses ensaios não medem diretamente a ativação do complemento. O ensaio de CHUHE (complement hemolysis using human erythrcytes) é descrito como efetivo na identificação do risco de hemólise mediada pelo complemento. Este estudo tem como objetivo analisar o risco de hemólise passiva dos anticorpos ABO, através da titulação das classes IgM/IgG, a hemólise mediada por complemento e o envolvimento das subclasses IgG1/IgG3. Material e métodos : Foram selecionadas para este estudo 56 amostras de doadores de sangue que apresentaram títulos ≥ 100 para anti-A e/ou anti-B (Grupo 2), e 21 amostras com títulos < 100 para anti-A e/ou anti-B, através de teste semiquantitativo em microplaca (Neo Immucor). Em todas as amostras determinamos o título de anticorpos IgM/IgG, o ensaio modificado de CHUHE-P, o teste de hemolisina e a determinação das subclasses IgG1/IgG3. Resultados: Das 40 amostras do Grupo 2, o teste semiquantitativo para Anti-A mostrou que 32 amostras (80%) foram positivas no teste CHUHE-P. Destas, 6/40 (15%) apresentaram títulos de IgM ≥ 128, 22 (55%) apresentaram títulos de IgG ≥ 128, 24 (60%) foram positivas para IgG1/IgG3 e 22 (55%) apresentaram resultados positivos para hemolisina. Entre as 8 amostras negativas no teste CHUHE-P, nenhuma apresentou títulos de IgM ≥ 128, 4 (10%) apresentaram títulos de IgG ≥ 128, 2 (5%) foram positivas para IgG1/IgG3 e 6 (15%) apresentaram resultados positivos para hemolisina. Para o anti-B, das 40 amostras, 33 (85%) foram positivas no teste CHUHE, considerado padrão-ouro. Destas, 7 (18%) apresentaram títulos ≥128 para IgM, 12 (36,36%) apresentaram títulos ≥128 para IgG, 28 (70%) foram positivas para as subclasses IgG1/IgG3 e 22 (55%) apresentaram hemolisina positiva. Das 6 amostras negativas no teste CHUHE-P, 1 (3%) apresentou título ≥128 para IgM, 2 (5%) apresentaram títulos ≥128 para IgG, 3 (8%) apresentaram resultados positivos para IgG1/IgG3 e 5 (13%) apresentaram hemolisina positiva. Discussão: Os resultados destacam a eficácia do ensaio CHUHE-P como um indicador de hemólise e a associação consistente de IgG1/IgG3 na demonstração de hemólise mediada por complemento. O desempenho moderado da titulação de anticorpos IgM e IgG e a capacidade limitada do ensaio de hemolisina sugerem que melhorias nesses métodos são necessárias. Conclusão: Implementar um método eficiente para analisar anticorpos ABO pode reduzir o risco de reações hemolíticas transfusionais. No entanto, é crucial que essa detecção seja conduzida usando uma metodologia apropriada para evitar impacto no gerenciamento de estoque. Acreditamos que o ensaio CHUHE-P representa um método significativo para avaliar hemólise mediada por complemento em unidades de plaquetas ABO-incompatíveis destinadas à transfusão em pacientes pediátricos e transplantados.