
A doença do enxerto contra o hospedeiro (DECH) é uma reação das células imunocompetentes do doador contra as células imunocomprometidas do receptor, após um transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH) alogênico. A DECH crônica em cavidade bucal (DECH-c oral) tem incidência em cerca de 70% a 83% e tem como critérios suficientes para o diagnóstico alterações na mucosa bucal tipo líquen plano. Outros sinais encontrados, porém insuficientes sozinhos para confirmar um diagnóstico, são xerostomia, mucoceles, atrofia de mucosas, úlceras e pseudomembranas. O objetivo do trabalho é relatar um caso de DECH crônica com manifestação em cavidade bucal após TCTH do tipo haploidêntico. Caso clínico: Paciente P.G.S., sexo masculino, 21 anos, com diagnóstico de Linfoma de Hodgkin refratário recidivado após TCTH autólogo, foi submetido a 2°TCTH em abril de 2016, desta vez alogênico haploidêntico. Desenvolveu DECH-c oral no D+408, tendo como sinais manchas hipercrômicas em lábios, lesões liquenóides em mucosa bucal, hipossalivação e, como sintoma, xerostomia. Além da DECH-c oral, houve sobreposição de candidíase oral. Como tratamento para a DECH-c oral, inicialmente, foi instituído bochecho com Dexametasona Elixir, 4 vezes ao dia, com acompanhamento mensal; em seguida, visto que não houve melhora da condição bucal, optou-se pelo Dipropionato de Beclometasona Spray, 2 puffs, 2 vezes ao dia, também com retornos mensais para observação e, para a infecção fúngica, foi prescrito bochechos com Nistatina 100.000 UI, 4 vezes ao dia. Com a resolução completa das lesões em mucosa bucal foi suspenso o tratamento tópico, mantendo apenas o uso de Tacrolimo pomada em lábios em virtude de manchas hipercrômicas labiais persistentes. Atualmente, encontra-se em tratamento com metotrexato (MTX) devido piora da DECH crônica após tentativa de redução da imunossupressão, com melhora significativa das lesões labiais.
DiscussãoA manifestação clínica da DECH-c oral pode envolver qualquer região da boca: lábios, mucosas labiais e jugais, língua, palatos duro e mole, assoalho de boca, gengiva, bem como a função salivar e a restrição do movimento bucal. O tratamento da DECH-c oral visa reparo tecidual, recuperação da funcionalidade e melhora da qualidade de vida dos pacientes. Dentre as medidas farmacológicas terapêuticas, os medicamentos esteroidais apresentam bons resultados clínicos e evidência científica, comprovando eficácia nos pacientes comprometidos pela patologia.
ConclusãoÉ imprescindível a presença do cirurgião-dentista capacitado inserido na equipe multidisciplinar oncológica, visando o diagnóstico e o tratamento de complicações tardias do TCTH como a DECH-c oral, promovendo qualidade de vida aos pacientes.