HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosCom o aumento da sobrevida de pacientes submetidos ao transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH), atualmente estimado em mais de meio milhão de sobreviventes, os efeitos a longo prazo desse procedimento ganham relevância clínica. Entre as complicações tardias, os distúrbios endócrinos se destacam por seu impacto significativo na qualidade de vida e desenvolvimento, especialmente em pacientes pediátricos. O acompanhamento contínuo e individualizado é essencial para a detecção precoce e manejo eficaz dessas alterações.
ObjetivosFazer uma revisão da literatura sobre as alterações endócrinas nos pacientes submetidos ao TCTH.
Material e métodosFoi realizada busca nas bases de dados PubMed/MEDLINE, SciELO e LILACS, utilizando os descritores controlados (Medical Subject Headings – MeSH e Descritores em Ciências da Saúde – DeCS) combinados por operadores booleanos AND e OR. Os termos utilizados foram: "transplante de células-tronco hematopoiéticas", "distúrbios endócrinos", "alterações endócrinas". Sem restrição de idioma.
Discussão e conclusãoFisiopatologia: as disfunções endócrinas estão frequentemente associadas à radioterapia (RT), quimioterapia (QT), e aos efeitos imunológicos do TMO. A RT craniana, por exemplo, pode causar danos diretos ao eixo hipotálamo-hipofisário, com prejuízo hormonal proporcional à dose e tempo de exposição. Além disso, agentes quimioterápicos e o condicionamento imunológico afetam diretamente tecidos endócrinos periféricos. Disfunções hipotalâmico-hipofisárias: a deficiência do hormônio de crescimento (GH) é comum, especialmente em pacientes submetidos à RT encefálica ou para tumores como leucemia linfoblástica aguda (LLA). Essa deficiência impacta negativamente o crescimento e o desenvolvimento puberal. A reposição com GH recombinante é considerada segura, devendo ser iniciada de 1 a 2 anos após o tratamento oncológico. Insuficiência adrenal central: a deficiência de ACTH pode surgir como resultado de lesões no eixo hipotálamo-hipofisário, exigindo reposição com corticosteroides. O reconhecimento clínico é fundamental, dado o risco de crise adrenal. Disfunções metabólicas: pacientes pós-TMO apresentam risco aumentado de obesidade e síndrome metabólica. Mecanismos incluem obesidade hipotalâmica, deficiência de GH, disfunção do tecido adiposo e estilo de vida sedentário. A dislipidemia e o diabetes mellitus pós-transplante (DMPT) são complicações metabólicas relevantes, com impacto cardiovascular significativo. O tratamento deve priorizar o uso de insulina e, em casos selecionados, metformina em baixas doses. Distúrbios tireoidianos: o hipotireoidismo (primário ou central) é frequente no seguimento a longo prazo. O tratamento é indicado em casos clínicos evidentes e deve ser ajustado com base no TSH e T4 livre. O rastreio regular é recomendado, especialmente após uso de RT cervical. Disfunções gonadais: infertilidade e hipogonadismo são comuns, principalmente em pacientes jovens expostos à QT e RT gonadal. A avaliação inclui dosagens hormonais (testosterona, LH, FSH, hormônio antimuleriano) e testes de reserva ovariana. A terapia de reposição deve ser cuidadosamente indicada, considerando riscos como eventos tromboembólicos e recorrência de neoplasias.
ConclusãoOs distúrbios endócrinos são complicações frequentes e potencialmente preveníveis em sobreviventes de TMO. O seguimento multidisciplinar, com rastreios periódicos e abordagem personalizada, é essencial para garantir melhor qualidade de vida a longo prazo.




