HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosDeficiência de Glicose 6 Fosfato Isomerase (GP1) é uma rara desordem autossômica recessiva associada com anemia hemolítica não esferocítica, e é causada por variantes homozigotas ou heterozigotas compostas do gene GP1. A GP1 é uma enzima dimérica responsável por catalisar a isomerização reversível da glicose-6-fosfato em frutose-6-fosfato na segunda etapa da reação da glicólise. A deficiência de GP1 interrompe esse processo, resultando em anemia hemolítica crônica, icterícia e esplenomegalia. O diagnóstico é realizado após exclusão de outras causas, avaliando a atividade de GP1 e identificação de mutações homozigotas ou heterozigotas compostas no gene GP1.
Descrição do casoPaciente feminina, 8 anos, filha única, pais sem consanguinidade. Ao nascimento, apresentou icterícia neonatal prolongada. Teste do pezinho sem alterações. Aos 4 meses de vida evidenciado quadro de anemia hemolítica. Na investigação de causa apresenta eletroforese de hemoglobina normal, G6PD normal, fragilidade osmolar normal, coombs direto negativo e Clone HPN ausente. Paciente foi transfundida e respondeu bem sustentando a hemoglobina por alguns meses. Em seguimento ambulatorial evoluiu com quadro crônico de hemólise e dependência transfusional. Foi realizada avaliação medular com cariótipo normal, Imunofenotipagem com aumento quantitativo da sério eritroide. Mielograma hipercelular, com hiperplasia e displasia eritroide. Em decorrência das transfusões fez sobrecarga férrica necessitando quelação. Na evolução passou a apresentar esplenomegalia leve. O desenvolvimento psicomotor sempre dentro da normalidade. Foi avaliada pela genética, não apresentava dismorfismos e foi solicitado exoma que evidenciou a presença de uma variante de significado incerto em homozigose no gene GP1 que codifica a proteína glicose-6- fosfato e que está associado a deficiência de GP1. Após revisão de literatura e auxílio da genética o diagnóstico foi firmado, e optamos por realizar esplenectomia. Desde então, cerca de 2 anos, a paciente nunca mais necessitou transfusões.
ConclusãoRevisando a literatura localizamos descrição de apenas um caso de paciente com a mesma variante, caso esse, de uma paciente espanhola de 18 anos que apresentava anemia desde os três anos de idade e que também foi submetida a esplenectomia. Após esse relato inicial por Baughan et al em 1968, foram relatados mais 90 pacientes com ampla variabilidade fenotípica e 55 variantes descritas. O diagnóstico de patologia genética embasou a realização de esplenectomia como estratégia terapêutica, e isso permitiu que a paciente atualmente tenha uma vida sem restrições e sem dependência transfusional. Conseguir firmar um diagnóstico, tranquilizou a família, que aceitou a doença e permitiu a esplenectomia. O avanço dos testes genômicos resultou em um aumento no número de casos diagnosticados de deficiência de GP1. Os métodos de NGS demostraram aplicabilidade no diagnóstico diferencial de anemia hemolítica de causa inexplicada. Embora não haja tratamento específico para a deficiência de GP1, a esplenectomia pode reduzir ou até eliminar as necessidades transfusionais. A identificação molecular de variantes de GP1 pode proporcionar novas descobertas sobre essa condição, incluindo novas estratégias terapêuticas.




