HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Mieloide Aguda (LMA) permanece como uma das neoplasias hematológicas de pior prognóstico. Apesar dos avanços no transplante de células- tronco hematopoiéticas (HSCT) e no uso de terapias alvo, a resistência e a recidiva são frequentes, reforçando a necessidade de novas abordagens. As terapias celulares com linfócitos T modificados com receptor de antígeno quimérico (CAR-T) revolucionaram o tratamento de neoplasias de linhagem B, mas sua aplicação na LMA é desafiadora pela ausência de um antígeno mieloide restrito ao tumor e risco elevado de mielossupressão prolongada. Esses fatores motivam uma análise da literatura.
ObjetivosObjetivou-se revisar ensaios clínicos que avaliam CAR-T dirigidas a antígenos-alvo relevantes na LMA, sumarizando eficácia, toxicidade, mecanismos de resistência e estratégias de otimização.
Material e métodosOs artigos selecionados contam com ensaios clínicos e pré-clínicos, publicados na base de dados PubMed com os descritores “CAR-T cell” e “acute myeloid leukemia” a partir de 2022. Avaliaram-se resposta completa (CR), negatividade de doença residual mínima (MRD), duração da resposta, eventos adversos (como síndrome de liberação de citocinas [CRS]), citopenias, além de mecanismos de resistência tumoral e modificações de engenharia celular.
Discussão e conclusãoForam selecionados 7 artigos, dentre eles, JIN et al. (2022) avaliaram CAR-T anti-CLL-1 e reportaram taxas de CR em até 70% dos pacientes tratados, com expansão de CAR-T nas primeiras 2 semanas; entretanto houve CRS universal, severa pancitopenia e duas mortes por infecção, sugerindo eficácia inicial, mas risco de mielotoxicidade que pode requerer HSCT. No cenário de modificação transcricional, ZOU et al. (2024) demonstrou como a superexpressão de C-JUN, resgatou a capacidade citotóxica e a persistência das CAR-T frente à imunossupressão. BHAGWAT et al. (2024) identificou que citocinas produzidas durante a terapia aumentam viabilidade dos blastos via JAK/STAT, promovendo resistência da LMA e levando à disfunção das CAR-T; bloqueio com ruxolitinibe resgatou sensibilidade in vitro, sugerindo terapia combinada como estratégia. APPELBAUM et al. (2024) desenvolveu uma plataforma que permite ligar/desligar atividade do CAR via baixas concentrações de rapamicina; em modelos pré-clínicos e fase I inicial mostrou ativação dependente de rapamicina e sinais iniciais de atividade antitumoral. ZHANG et al. mostrou que em recidiva após HSCT, CAR-T doador-derivadas foram toleráveis; 58% alcançaram MRD-CR e houve expansão das CAR-T. DANYLESKO et al. (2024) observou em um grupo de LMA com t(8;21) e expressão aberrante de CD19, CAR-T CD19 induziu remissão citogenética/hematológica em 4/6 pacientes (CR), sugerindo que subgrupos moleculares que expressam antígenos “não tradicionais” podem beneficiar-se de CAR-T direcionadas a esses alvos. YIN et al. (2025) reportou que dos 10 pacientes com t(8;21) e CD19+, 100% alcançaram CR após CD19 CAR-T; 60% obtiveram CR MRD-negativa, contudo sobrevida livre curta e alta incidência de recidiva, indica eficácia inicial importante em subgrupo molecular porém necessidade de estratégias para durabilidade. A terapia com células CAR-T para LMA é promissora, mas ainda limitada. Os estudos indicam que o sucesso depende da combinação de alvos mais específicos, modulação farmacológica do microambiente e integração com transplante quando apropriado. Ensaios clínicos de maior escala serão essenciais para confirmar a eficácia e viabilizar a incorporação da estratégia no manejo da doença.




