A pandemia de COVID-19, causada pelo SARS-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) trouxe um desafio para a população geral, sem condições de qualquer tipo de planejamento, porém sendo evidente o maior impacto em países subdesenvolvidos como o Brasil, que apresentava capacidade mais limitada para lidar com casos críticos, levando ao colapso dos sistemas de saúde em várias localidades. Então, considerando que a febre é um dos principais sintomas de COVID-19 e também um sintoma comum nas leucemias e também considerando que a população idosa envolve uma maior complexidade devido sua fragilidade e multicomorbidades, é válido a análise no diagnóstico e na mortalidade pelas leucemias comparando com ano pré-pandêmico.

Analisar, através dos dados disponíveis publicamente no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do ano de 2020, o impacto da pandemia de COVID-19 no diagnóstico e mortalidade de leucemias no estado do Paraná e comparar com o mesmo período de 2019, último ano antes da pandemia.

Constituiu-se de estudo transversal e descritivo. A população alvo foi de pacientes, de faixa etária maior que 60 anos, com diagnóstico de leucemia, firmado no estado do Paraná, no período de 2019, ano pré-pandemia, e no ano seguinte, em 2020, primeiro após a pandemia de COVID-19.

Em 2019, o estado do Paraná registrou 198 novos casos de leucemia em idosos, sendo a maioria dado na faixa etária entre 60 e 64 anos. No mesmo ano, foram registrados 303 óbitos tendo como causa a leucemia, a maioria deles em pacientes com 80 anos ou mais. Já em 2020, o Estado registrou 171 novos casos de leucemia, novamente com a maioria entre 60 e 64 anos. Os óbitos foram contabilizados em 305, sendo a maioria na faixa etária de 70 a 79 anos.

O número de diagnósticos no estado do Paraná reduziu após o início da pandemia de COVID-19, semelhante a outros lugares do mundo com mesmo comportamento, tendo explicação baseada talvez no respeito dos pacientes ao isolamento social e ao colapso dos sistemas de saúde que necessitaram realocar recursos e funcionários para o atendimento direto das síndromes respiratórias. A mortalidade parece não ter sido afetada no Estado, apesar de pacientes idosos serem mais vulneráveis às complicações de COVID-19 e a um maior número de internações, motivos pelos quais os pacientes mais idosos poderiam ter um atraso no início da terapia ou aumento na mortalidade por leucemias no período após início da pandemia.

Faz-se necessário, então, manutenção da atenção com o diagnóstico de leucemias na população idosa, mas também cautela em relação à morbidade causada por esta, considerando maior vulnerabilidade dessa classe e maior susceptibilidade ao vírus de COVID-19, que pode levar a atrasos e suspensão de esquemas de tratamento.