
A titulação de anticorpos irregulares é um teste semi-quantitativo em que se determinada a concentração de anticorpos presente no soro ou plasma. O teste pode ser realizado em tubo ou em gel-teste, sendo o teste em tubo o procedimento padrão, amplamente validado. Em contrapartida, o teste em gel é uma alternativa mais simples e com potencial de automação. Entretanto, variações de pelo menos dois títulos acima da determinação em tubo são esperadas e a definição de um título clinicamente crítico por esta metodologia ainda não foi estabelecida.
ObjetivoO objetivo desse estudo foi comparar o comportamento das metodologias em tubo e gel-teste para titulação de anticorpos.
Material e métodosNo período de novembro de 2022 a fevereiro de 2023, foram avaliadas 40 amostras da rotina laboratorial atendendo a dois critérios: 1) Ter havido identificação e titulação de anticorpo irregular; 2) Haver volume excedente. As amostras foram anonimizadas para a análise. Do total de amostras, 24 eram positivas para o anticorpo anti-D, uma para o anti-C, três para o anti-c, três para o anti-E, seis para o anti-K, duas para o anti-Dia e uma para o anti-Fya. Para a titulação dos anticorpos, as amostras foram diluídas e homogeneizadas em solução comercial nas proporções: pura, 1:2, 1:4 e assim sucessivamente até o resultado de leitura negativo. As hemácias usadas para titulação em tubo foram as mesmas usadas para titulação em gel. A leitura foi feita de forma visual em tubo e gel. Todos os reagentes usados foram da Bio-Rad.
ResultadosNove (22%) das 40 amostras analisadas em gel-teste mostraram o mesmo título em relação á metodologia em tubo, 25 (63%) apresentaram variação de 2 títulos e seis (15%) uma variação de 3 títulos.Quando avaliamos os anticorpos específicos, verificamos que para anticorpo anti-D, seis (25%) das 24 amostras não apresentaram variação de título, 15 (62%) apresentaram variação de 2 títulos e três (13%) apresentaram variação de 3 títulos. As amostras positivas para anti-C e anti-Fya tiveram variação de 3 e 2 títulos respectivamente. Duas (40%) das cinco amostras com anti-E tiveram variação de 2 títulos e três tiveram variação de 3 títulos. As duas amostras positivas para anti-Dia tiveram variação de 2 títulos. Para o anti-Kell, duas (33%) das seis amostras não apresentaram variação nos títulos e quatro (67%) apresentaram variação de 2 títulos.
DiscussãoA variação de título foi observada em grande parte dos anticorpos estudados, sendo que em 15% deles a variação foi superior aos 2 títulos esperados, corroborando dados de estudos que relatam até 5 títulos de diferença em análises similares. Mesmo que 63% dos casos tenham tido a variação esperada, outros 22% tiveram títulos iguais, dificultando o estabelecimento de um padrão.
ConclusãoEm conclusão, o uso da metodologia gel-teste para titulação de anticorpos irregulares não guarda correlação linear com a titulação em tubo, dificultando o estabelecimento de um padrão de correspondência em relação à metodologia em tubo. Estudos que determinem valores críticos em gel ainda são necessários, bem como determinação da reprodutibilidade do método, para que a técnica possa ser adotada com segurança. A AABB segue recomendando o uso de metodologia em tubo para a determinação do título de anticorpos irregulares.