
A avaliação da medula óssea com a quantificação dos plasmócitos é importante para o diagnóstico, prognóstico e monitoramento do tratamento das doenças plasmocitárias. Pode ser realizada por diversos métodos como mielograma, imprint, citometria de fluxo (CF) e biópsia de medula óssea (BMO). O objetivo deste trabalho é descrever e comparar a infiltração identificada nos diferentes métodos em pacientes com doenças plasmocitárias ao diagnóstico.
Material e MétodosEstudo observacional realizado com coleta dos dados laboratoriais de pacientes adultos com doenças plasmocitárias previamente a tratamento, que haviam realizado mielograma (% em 250 células), imprint, (% em 100 células), CF (CD38, C138+) e BMO (H&E e Imuno-histoquímica com CD138) no mesmo laboratório entre janeiro/2015 e maio/2021. Coeficiente de correlação intraclasse foi utilizada para avaliar a concordância dos diferentes métodos para quantificação de plasmócitos estratificados em 3 grupos: < 10%; 10-59% e ≥ 60% plasmócitos.
ResultadosForam estudados 67 casos, 59,7% homens, mediana 70 (32-85) anos, 61% com MM, 25,4% GMSI, 6% smoldering mieloma, 6% Amiloidose AL. Presença de menos de 10% de plasmócitos foi observada em 32, 35, 44 e 25 pacientes, respectivamente ao mielograma, imprint, CF e na BMO. Presença de plasmócitos em percentual ≥ 60% foi detectado em 7, 4, 2 e 21 casos, respectivamente. Dos 67 casos, 37 apresentaram discordância na quantificação dos plasmócitos conforme a estratificação utilizada, em um ou mais dos métodos realizados. Dentre esses, 28 apresentavam maior infiltração na biópsia de medula, sendo que 12 casos apresentavam contaminação do aspirado medular por sangue periférico, 14 apresentavam fibrose moderada a acentuada e um com infiltração nodular de plasmócitos detectada na biópsia. A concordância (índice Kappa) entre a BMO e o mielograma, imprint e CF foi de 0,501, 0,408 e 0,017, respectivamente; entre o mielograma e o imprint e CF foi de 0,738 e 0,541 respectivamente e entre o imprint e a CF foi de 0,573%.
DiscussãoA concordância na quantificação plasmocitária foi fraca a moderada entre a maioria dos métodos. Além disso, observou-se maior infiltração na biópsia de medula óssea do que nos outros exames. O acometimento focal das doenças plasmocitárias, que cursam com infiltração nodular, prejudicando a contabilização dos plasmócitos em exames de dispersão; a evolução dessas doenças com fibrose moderada a acentuada, o que inviabiliza o diagnóstico por exames que não mostrem a arquitetura tecidual e a contaminação da amostra do mielograma com sangue periférico, ocasionando diluição e redução da concentração de plasmócitos, são explicações para esse resultado. Apesar disso, é importante ressaltar que o resultado do mielograma, do imprint e da citometria de fluxo demandam menos tempo e podem fornecer informações úteis para o diagnóstico diferencial.
ConclusãoApenas o mielograma e o imprint mostraram concordância no percentual de plasmócitos. A biópsia de medula óssea evidenciou maiores infiltrações, podendo ser importante para critério diagnóstico e início de tratamento, achado apoiado em consensos da literatura.