HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA coagulopatia intravascular disseminada (CIVD) é uma complicação significativa em até 21% das leucemias mieloides agudas (LMA) não promielocíticas, configurando uma emergência médica. A CIVD é um fator de risco independente para mortalidade precoce, com taxas superiores a 40% em 30 dias (vs. <10% em pacientes sem a complicação), além de aumentar o risco de sangramentos e tromboses. O escore ISTH-DIC surge como uma ferramenta simples que pode auxiliar no diagnóstico e prognóstico de pacientes que apresentem CIVD. Sua pontuação se baseia na contagem de plaquetas, fibrinogênio, tempo de protrombina e D-dímero. O reconhecimento e manejo imediatos, com suporte transfusional e tratamento da LMA, são cruciais. Este estudo ilustra, por meio de um relato de caso, o impacto prognóstico adverso da CIVD em um paciente com LMA de alto risco.
Descrição do casoJ.G., 63 anos, admitido em 20/09/2022 com quadro de duas semanas de sintomas gripais. O hemograma inicial revelou leucopenia (2.830/mm3) com 18% de blastos, plaquetopenia (67.000/mm3) e anemia (Hb 10,8 g/dL). A investigação diagnóstica confirmou LMA secundária a síndrome mielodisplásica (SMD) com 40% de blastos medulares e cariótipo complexo de alto risco, incluindo del(7q) e t(1;11). O coagulograma (TAP 16s, TTPa prolongado, plaquetas 53.000/mm3) firmou o diagnóstico de CIVD associada, um achado que, em conjunto com a citogenética, já sinalizava um prognóstico reservado. A evolução foi marcada pela refratariedade da doença e múltiplas complicações. O paciente não atingiu remissão após os protocolos de quimioterapia "7+3" e "VIALE-C". As principais intercorrências incluíram choque séptico por Staphylococcus haemolyticus, fibrilação atrial de alta resposta (revertida quimicamente), surgimento de hematoma extenso em dorso e insuficiência renal aguda. Diante da doença incurável, a equipe optou por medidas de conforto, sem indicação de terapias invasivas.
ConclusãoEste caso ilustra de forma contundente a associação entre CIVD, LMA de alto risco e desfecho desfavorável. A apresentação inicial do paciente, com a coexistência de um cariótipo complexo e CIVD, personifica os desafios descritos na literatura e antecipou a agressividade biológica da doença. A refratariedade aos dois regimes terapêuticos e as graves complicações subsequentes podem ser vistas como consequência direta dessa biologia adversa. Embora o manejo da CIVD e das infecções tenha sido realizado prontamente, o desfecho foi determinado pela incapacidade de controlar a leucemia, evidenciando que o tratamento da coagulopatia é um suporte essencial, mas paliativo, se a remissão não for alcançada. Este relato reforça que a CIVD em LMA não promielocítica é um marcador de mau prognóstico, e seu manejo deve ser integrado ao tratamento antileucêmico, do qual o prognóstico final permanece intrinsecamente dependente.
Referências:
Paterno G, Palmieri R, Greco R, Mariani M, Manetta R, Romano A, et al. The ISTH DIC-score predicts early mortality in patients with non-promyelocytic acute myeloid leukemia. Thromb Res. 2023;236:30-6. doi:10.1016/j.thromres.2023.07.004.
Guo Z, Chen X, Tan Y, Xu Z, Xu L. Coagulopathy in cytogenetically and molecularly distinct acute leukemias at diagnosis: Comprehensive study. Blood Cells Mol Dis. 2020;81:102393. doi:10.1016/j.bcmd.2019.102393.




