
A hemorragia obstétrica é uma emergência médica caracterizada por sangramento materno excessivo. Esta pode ocorrer antes, durante ou após o parto e, por ser mais frequente nos dois últimos momentos, pode também ser chamada de hemorragia puerperal (HPP). Segundo a literatura sua incidência atinge até 6% de todas parturientes. Atualmente, a HPP configura a principal causa de morbimortalidade materna em todo mundo. Seu manejo é desafiador e, abrange a atuação de equipe multidisciplinar. A instituição de protocolos que, não apenas classificam as gestantes conforme sua maior predisposição para sangramento, mas que descrevem as principais medidas obstétricas, cirúrgicas e hemoterápicas a serem tomadas frente à uma situação emergencial é fundamental para a redução da mortalidade materna. As principais etiologias podem ser divididas em 4 grandes grupos: alteração do tônus uterino, retenção de tecido ou coágulos, trauma no trato genital e distúrbios de coagulação. Dentre estes a mais frequente é a atonia uterina, definida como falha na contratilidade do útero após o parto resultando num sangramento excessivo.
Material e métodoEm nosso Serviço, o protocolo de atendimento à hemorragia puerperal (HPP) é bem estabelecido. As pacientes são classificadas na admissão e, reclassificadas durante a permanência hospitalar de acordo com o curso clínico. Nas de baixo risco é realizada tipagem sanguínea, nas de médio risco acrescentamos a pesquisa de anticorpos irregulares e, nas de alto risco realizamos a prova cruzada de forma que, o concentrado de hemácia está disponível para atendimento hemoterápico imediato. Nosso objetivo foi analisar de forma retrospectiva a classificação, pelo protocolo de HPP, das gestantes transfundidas em nosso serviço, a fim de avaliar os fatores de risco mais associados a sangramento obstétrico com necessidade transfusional. O período de análise foi de abril/2020 à Junho/2021.
ResultadosNo período analisado, ocorreram 6145 atendimentos obstétricos que envolveram parto vaginal, cesariana, curetagem ou reabordagem cirúrgica. Destes 59 (0,96%) necessitaram de transfusão durante a internação. As gestantes que mais receberam hemotransfusão foram aquelas classificadas em baixo risco 23 (39%), seguidas pelas de alto risco 22 (37,3%) e, por fim as de médio 14 (23,7%). Dentre as causas do sangramento, a alteração do tônus foi a mais frequente ocorrendo em 25 (42,4%) pacientes. O total de hemocomponentes transfundidos nessas pacientes foi 228 perfazendo uma taxa de 3,9 hemocomponentes por paciente e, distribuído da seguinte forma: 85 (37,3%) nas de baixo risco, 39 (17,1%) nas de médio e 104 (45,6%) nas de alto risco.
ConclusãoA estratificação de risco das gestantes auxilia o serviço a se preparar melhor para o atendimento das pacientes classificadas em um maior risco para sangramento. Porem, parte expressiva das parturientes com hemorragia obstétrica não apresenta fatores de risco identificáveis durante a gestação ou admissão hospitalar, sendo inicialmente classificadas como baixo risco. Portanto, os serviços de maternidade devem estar estruturados e, ter equipe capacitada para o atendimento emergencial. Apenas dessa forma, conseguiremos reduzir as taxas de mortalidade obstétrica por HPP.