
O Concentrado de Plaquetas (CP) é o segundo hemocomponente mais utilizado na hemoterapia. Como a temperatura de armazenamento deve ser de 20 a 24°C, o CP apresenta maior risco de contaminação microbiológica, o que limita sua validade ao período de 5 dias. A legislação vigente determina que o controle de qualidade dos concentrados de plaquetas seja realizado por amostragem em 1% da produção ou 10 unidades (o que for maior) sendo obrigatórios os testes de contagem de células (plaquetas e leucócitos), PH, microbiológico, além da verificação do swirling. Apesar da presença de swirling ser um indicativo positivo de viabilidade e função plaquetária preservadas, as normativas e legislação vigente não fazem referência a realização de testes mais específicos para avaliação da atividade ou mesmo ativação das plaquetas presentes nos concentrados. Diversas etapas do ciclo do sangue podem interferir na ativação plaquetária e na viabilidade, como tempo de coleta, temperatura de armazamento, manuseio incorreto, dentre outras. Sendo assim, a avaliação mais específica desses parâmetros poderia ser uma aliada no impacto destes fatores no aproveitamento transfusional. A citometria de fluxo é uma das técnicas que pode ser utilizada para avaliar a ativação e viabilidade das plaquetas através da quantificação da expressão de glicoproteínas de superfície celular que estão ou não expressas nas situações de ativação/viabilidade.
ObjetivosRealizar a caracterização dos parâmetros de viabilidade e ativação passiva (sem adição de agente ativador) das plaquetas pela técnica de citometria de fluxo, em unidades de CP nos dias 1, 3 e 5 do período de estocagem.
MetodologiaA viabilidade e ativação das plaquetas em 6 unidades de CP foram avaliadas por citometria de fluxo (BD FACSCanto™II). Os CPs foram mantidos sob condições ideais de armazenamento e temperatura durante seu período de estocagem e avaliados nos dias 1, 3 e 5. As plaquetas foram identificadas pela expressão de CD41a, a ativação passiva pela expressão de CD62P e a viabilidade determinada pela coloração com calceína-AM. Os grupos para cada tempo foram analisados por ANOVA de uma via e teste pos-hoc de Tukey para os pares. Foram considerados estatisticamente significantes valores de p < 0,05.
ResultadosA viabilidade média das plaquetas foi diferente nos dias 1, 3 e 5 (p = 0,002), sendo de 86,93%(dp 8,51) no dia 1, 91,92% (dp 4,31) no dia 3 e 70,38% (dp12,03) no dia 5. O dia 5 apresentou menor viabilidade quando comparado ao dia 1 (p = 0,0145) e ao dia 5 (p = 0,0021). A ativação das plaquetas viáveis também foi diferente nos três tempos (p = 00037). As porcentagens médias de ativação foram de 39,07% (dp11,75), 14,08% (dp5,48) e 31,73%(dp13,72) para os dias 1, 3 e 5, respectivamente. As plaquetas apresentaram percentual de ativação menor no dia 3 quando comparado aos dias 1 (p = 0,0033) e 5 (p = 0,0336).
ConclusãoAs unidades de concentrados de plaquetas avaliadas, nas quais não houve interferências durante os processos de coleta, produção e estocagem, possuíam aproximadamente 70% das plaquetas viáveis no quinto dia de estocagem, das quais aproximadamente 1/3 estavam ativadas. O dia 3 do armazenamento apresentou o maior índice de viabilidade e menor percentual de ativação passiva. Futuros estudos com aumento do número de concentrados de plaquetas avaliados são importantes para confirmação dos resultados obtidos e avaliação do impacto da quantidade de plaquetas viáveis e ativadas no aproveitamento transfusional.