
Telomeropatias são doenças humanas herdadas causadas por defeitos genéticos na manutenção dos telômeros, afetando principalmente a medula óssea, pulmões e fígado. Na medula óssea, a anemia aplástica é a manifestação mais comum, entretanto os mecanismos que modulam o declínio funcional das células-tronco hematopoéticas sob as condições de encurtamento dos telômeros ainda não são completamente elucidados. O presente estudo busca precisar o arranjo da distribuição das subpopulações de células tronco e progenitoras hematopoéticas na medula óssea nas telomeropatias, determinando as subpopulações mais afetadas na enfermidade.
MetodologiaA partir da coleta de 50 mL de medula óssea da crista ilíaca posterior de pacientes com doenças teloméricas, as células mononucleares do aspirado de medula óssea foram separadas por meio de centrifugação e separação positiva de células CD34+ em coluna de separação magnética, e fenótipo determinado em citômetro de fluxo a partir de um painel contendo 9 marcadores, sendo eles anticorpos: anti-CD45, anti-CD34, anti-CD38, anti-CD45RA, anti-CD90, anti CD49f, anti-CD10, anti-CD7 e anti CD-13.
ResultadosForam analisadas as subpopulações de HSCs (Hematopoietic Stem Cells, CD34+, CD38-, CD45RA-, CD90+, CD49f+), MPPs (Multipotent Progenitors, CD34+, CD38-, CD45RA-, CD90-, CD49f-), MLPs (Multi Lymphoid Progenitors, CD34+, CD38+, CD45RA+, CD10+, CD7-), CMPs (Common Myeloid Progenitors, CD34+, CD38+, CD45RA-, CD135+, CD10-, CD7-), GMPs (Granulocyte-Monocyte Progenitors, CD34+, CD38+, CD45RA+, CD135+, CD10-, CD7-) e MEPs (Megakaryocytic-Erythroid Progenitors, CD34+, CD38+, CD45RA-, CD135-, CD10-, CD7-) de 7 pacientes com telomeropatias e 2 controles saudáveis. Observamos que a porcentagem relativa da subpopulação de Hematopoietic Stem Cells (HSCs) foi a única a demonstrar relevância estatística na comparação entre amostras do grupo controle e do grupo experimental (p = 0,0357), sendo mais elevadas nos pacientes com telomeropatias em relação aos controles. A análise da subpopulação de Multipotent Progenitors (MPPs) não foi estatisticamente diferente entre os grupos (p = 0,0714). Não houve correlação entre as porcentagens relativas obtidas de MPPs e HSCs dos pacientes com as contagens de elementos do sangue periférico (p > 0,05).
DiscussãoEncontramos um aumento do número de HSCs na medula óssea de pacientes com telomeropatias em comparação a indivíduos saudáveis, o que sugere paradoxalmente um incremento dessa população. Esses resultados podem indicar um bloqueio na maturação como parte do mecanismo da doença. Trabalhos recentes indicam que o desgaste telomérico mantém as células-tronco hematopoéticas (HSCs) sob ativação metabólica persistente e diferenciação em direção à linhagem megacariocítica através da regulação positiva intrínseca da resposta da sinalização imune inata, o que compromete diretamente a capacidade de autorrenovação das HSCs e, eventualmente, leva à sua exaustão.
ConclusãoEm pacientes com telomeropatias, há um aumento proporcional da população de células HSC (CD34+CD38-CD45RA-CD90+CCD49f+) na medula óssea, o que pode indicar um bloqueio de maturação hematopoético.