
No Brasil, o câncer é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, representando 8% dos óbitos. O câncer infantojuvenil comumente tem uma natureza embrionária, resultando em tumores compostos por células indiferenciadas, afetando o sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. A leucemia aguda é a malignidade mais comum na infância, com a leucemia linfoblástica aguda (LLA) responsável por 80% dos casos pediátricos e a leucemia mieloide aguda (LMA) por 15%. A LLA tem uma taxa de sobrevida superior à LMA. O tratamento eficaz envolve um regime multifarmacológico dividido em indução, consolidação e manutenção, além da terapia direcionada ao sistema nervoso central (SNC). É importante destacar que, apesar dos avanços tecnológicos, das melhorias nos cuidados de suporte e do aumento significativo na taxa de sobrevida, o tratamento ainda impõe um custo a qualidade de vida dos pacientes, pois a morte decorrente da toxicidade do tratamento continua sendo um desafio.
ObjetivoAnalisar os aspectos sociais, demográficos e epidemiológicos das internações por leucemia no Brasil entre 2019 e 2023.
MétodosTrata-se de um estudo observacional, baseado em dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram selecionadas as seguintes variáveis: Total de gastos, faixa etária, gênero, cor/raça, taxa de mortalidade, região de internação e óbitos. A pesquisa abrange dados de 2019 a 2023, focando na faixa etária de 0 a 9 anos.
ResultadosForam registradas 198.762 internações por leucemia entre 2019 e 2023. As regiões com maior número de casos foram o Sudeste (39,1%, n = 77.705) e o Nordeste (27,2%, n = 54.135), seguidas pelo Sul (18,7%, n = 37.101), Norte (7,8%, n = 15.491) e Centro-Oeste (7,2%, n = 14.330). A predominância foi no sexo masculino (57,3%, n = 36.933) em comparação ao feminino (42,7%, n = 27.526). A faixa etária mais afetada foi de 1 a 4 anos (31.599), seguida pela de 5 a 9 anos (31.283) e menores de 1 ano (1.577). Quanto à cor, 15,5% das internações foram de pessoas pardas e 12,4% de pessoas brancas. A taxa de mortalidade foi maior na Região Norte (2,37%), seguida pelo Nordeste (2,13%). O valor total gasto com serviços hospitalares foi de aproximadamente R$ 146 milhões.
DiscussãoOs resultados mostram uma concentração significativa de internações por leucemia no Sudeste, possivelmente devido ao melhor acesso a serviços de saúde. A predominância no sexo masculino pode ser explicada por fatores biológicos. A maior incidência na faixa etária de 1 a 4 anos sugere uma vulnerabilidade relacionada ao desenvolvimento imunológico. A primazia da cor parda entre os internados pode ser atribuída à composição racial do Brasil, onde 45,3% da população é parda. A taxa de mortalidade mais elevada na Região Norte pode indicar desafios na qualidade e disponibilidade de tratamento especializado. O elevado custo total reflete a complexidade do tratamento da leucemia, que envolve múltiplas fases e suporte contínuo.
ConclusãoA análise dos dados mostra uma prevalência significativa de internações por leucemia em indivíduos vulneráveis. A mortalidade mais elevada em regiões carentes de serviços de saúde evidencia desafios regionais no manejo da doença. Esses resultados sublinham a necessidade de aprimorar medidas de prevenção, fortalecer o acesso a cuidados de saúde especializados e abordar desigualdades regionais para enfrentar eficazmente a leucemia no Brasil.