HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosOs linfomas periféricos de células T (LPCTs) são neoplasias raras e agressivas de células T maduras, representando até 12% dos linfomas não Hodgkin. Entre os subtipos mais comuns, destacam-se o linfoma periférico sem outra especificação (LPCT SOE), o linfoma angioimunoblástico (LAIT) e o linfoma anaplásico de grandes células (LAGC). O tratamento de primeira linha geralmente envolve CHOP (ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona) ou CHOEP (CHOP associado a etoposídeo); mas a sobrevida global permanece limitada.
ObjetivosEste trabalho tem como objetivo revisar o tratamento dos LPCTs e as perspectiva de individualização terapêutica.
Material e métodosFoi realizada uma revisão sistemática seguindo as diretrizes PRISMA na base PubMed (2020–2025), com os descritores: “Peripheral T-cell Lymphomas AND Brentuximabe Vedotina”. Dos 63 artigos encontrados, foram incluídos 14 estudos clínicos com adultos (≥18 anos) que associaram as terapias mais recentes para LPCTs a desfechos clínicos. Foram excluídos relatos de caso, estudos pediátricos e pré-clínicos. Dois grupos principais de tratamento foram analisados e neles estão inclusos: brentuximabe vedotina (BV) e inibidores do fosfatidilinositol 3-kinase (PI3K).
Discussão e conclusãoO uso de BV reduziu significativamente o risco de segunda recidiva em LPCTs recidivados/refratários (RR [razão de riscos] 0,55; IC95%: 0,35–0,87; p = 0,01). Já os pacientes com recidiva precoce (<12 meses) apresentaram maior risco de nova recidiva (RR 1,57; IC95%: 1,11–2,22; p = 0,01) e de mortalidade (RR 1,49; IC95%: 1,03–2,15; p = 0,03). O subtipo LPCT SOE também se associou a maior risco de morte (RR 2,35; IC95%: 1,01–5,47; p = 0,02). A taxa de resposta completa variou entre os tratamentos de segunda linha: 43% com BV, 40% com protocolos quimioterápicos mais intensos como dexametasona, citarabina em alta dose e cisplatina ou gemcitabina, dexametasona e cisplatina, e 23% com outras terapias (p = 0,02). Novas abordagens sugerem o emprego de PI3K ou o uso da histona deacetilase. Por exemplo, o duvelisibe apresentou taxa de resposta global (TRG) de 49%, resposta completa (RC) de 34%, sobrevida livre de progressão de 7,7 meses (LPCT SOE: 48%; LAIT: 67%; LAGC: 13%). Já associado à romidepsina, a TRG foi de 71%. O tenalisibe isolado obteve TRG de 45%; e romidepsina de TRG 75% e 50% de RC. A literatura, de um modo geral, tem enfatizado o importante papel do BV no resgate de paciente com LPCT refratário ou recidivado. Por outro lado, o seu elevado custo tem representado uma barreira relevante à sua adoção sistemática, especialmente no contexto da saúde pública. Além disso, o medicamento é classificado como substância perigosa o que determina o seu preparo em capela com fluxo laminar, cadeia de frio, ambiente asséptico e descarte rigoroso. Tais exigências demandam infraestrutura adequada e equipe treinada, limitando seu uso em centros com menor capacidade técnica e logística. Diante dos dados obtidos, é evidente que o avanço no tratamento dos LPCTs com BV ou mesmo o emprego das mais recentes terapias-alvo no Brasil exige mais do que comprovação de sua eficácia, pois é necessário também ampliar o acesso por meio de políticas públicas orientadas por custo-efetividade, financiamento público e investimentos em capacitação e infraestrutura. Dessa maneira, a disponibilização abrangente desses tipos de terapias depende de um esforço coordenado entre gestores e profissionais da saúde e indústria farmacêutica.




