HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosEste relato de caso descreve a evolução de um paciente de 85 anos com histórico de Leucemia, admitido após um traumatismo cranioencefálico (TCE). O caso ilustra a complexa interação entre uma patologia hematológica subjacente e um trauma, resultando em um quadro hemorrágico intracraniano grave. O desfecho clínico desfavorável, apesar de um evento traumático de baixo impacto, levanta questões sobre o papel das alterações hematológicas na patogênese e no prognóstico da lesão cerebral traumática neste contexto.
Descrição do casoPaciente CFH, sexo masculino, 85 anos, com histórico de leucemia em acompanhamento, foi admitido no hospital no dia 25/07/2025. O paciente sofreu uma queda de própria altura no dia anterior e foi encontrado inconsciente pelo filho. A tomografia de crânio revelou um volumoso hematoma subdural agudo com desvio de linha média e sinais de herniação, indicando uma lesão grave e com risco de vida. Os exames laboratoriais de admissão e do dia seguinte evidenciaram um quadro de bicitopenia. O hemograma de 25/07/2025 mostrou anemia (Hemoglobina: 7,5 g/dL) e trombocitopenia (Plaquetas: 103.000/mm3). A microscopia do esfregaço sanguíneo revelou alterações eritrocitárias (anisocitose, poiquilocitose, eliptócitos e dacriócitos) e a presença de 2% de blastos, 4% de promielócitos e 7% de mielócitos, alem da presença de "células de harlequin". No hemograma de 26/07/2025, a contagem de plaquetas era de 133.000/mm3, ainda abaixo do limite de normalidade.O paciente apresentou uma rápida deterioração neurológica, com progressão para coma e pupilas fixas e midriáticas, o que levou a equipe médica a optar por cuidados conservadores, focados em conforto e suporte, devido ao prognóstico sombrio. O quadro de bicitopenia observado no paciente é um achado crítico. A Leucemia Mieloide Crônica (LMC), que estava sob investigação no paciente, embora classicamente associada à leucocitose, pode em certas fases ou em pacientes com mielodisplasia concomitante, cursar com bicitopenia. A trombocitopenia, em particular, tem um papel fundamental na evolução do caso. As plaquetas são essenciais no processo de coagulação, e sua baixa contagem ou disfunção pode comprometer a hemostasia. A presença de blastos nos exames de sangue periférico sugere uma progressão da doença ou uma variante que afeta diretamente a medula óssea. Embora o termo "célula de harlequin" não seja uma nomenclatura formal, a observação de células com características morfológicas atípicas no esfregaço sanguíneo, incluindo blastos, é um marcador da displasia e da instabilidade clonal da leucemia mieloide crônica. A queda de própria altura, um evento de baixo impacto, tornou-se uma lesão hemorrágica fatal devido à hemostasia comprometida do paciente. A deficiência na contagem e função plaquetária, exacerbada pela condição onco-hematológica, foi o fator que permitiu a expansão do hematoma subdural, levando à compressão cerebral e à morte neurológica.
ConclusãoA análise deste caso destaca a importância de uma avaliação hematológica completa em pacientes com doenças malignas do sangue que sofrem traumas, mesmo que leves. A bicitopenia, com ênfase na trombocitopenia, em um paciente com suspeita de leucemia mieloide crônica, foi o fator que transformou um evento traumático banal em um desastre neurológico. Este caso reforça a necessidade de considerar a condição hematológica subjacente como um fator de risco significativo para complicações hemorrágicas, influenciando drasticamente a evolução e o prognóstico de traumas.




