HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosAs leucemias agudas correspondem a aproximadamente 35% de todas as leucemias e permanecem como um dos principais desafios em hematologia devido à rápida evolução, alto risco de mortalidade e necessidade de intervenções emergenciais. O impacto dessas doenças é substancial tanto na sobrevida global quanto na qualidade de vida, especialmente em adultos jovens e idosos, e o cenário brasileiro apresenta barreiras adicionais relacionadas ao diagnóstico tardio e acesso desigual a terapias avançadas. Nos últimos anos, o conhecimento aprofundado sobre mecanismos genéticos, epigenéticos e imunológicos permitiu o surgimento de ferramentas diagnósticas mais precisas e novas estratégias terapêuticas baseadas em medicina personalizada, mudando radicalmente a abordagem clínica, prognóstica e as perspectivas de cura das leucemias agudas. Diretrizes internacionais reforçam a importância da estratificação de risco, detecção de doença residual mínima (MRD) e incorporação precoce de terapias-alvo e imunoterapias, impulsionando ganhos reais em sobrevida e redução de toxicidade.
ObjetivosAnalisar os avanços diagnósticos e terapêuticos em leucemias agudas, destacando diagnóstico molecular, terapias-alvo, imunoterapia e desafios para implementação prática à luz de consensos internacionais recentes.
Material e métodosRevisão narrativa da literatura, abrangendo diretrizes ELN (2022), NCCN (2024), artigos do PubMed, Embase, Scopus e ensaios clínicos fase II/III. Foram priorizados estudos sobre diagnóstico molecular, estratificação de risco, terapias-alvo e imunoterapia. A utilização de painéis NGS e citometria multiparamétrica permitiu subclassificações clínicas mais refinadas, orientando a escolha terapêutica e o prognóstico em ambos os subtipos de leucemia. Em LMA, mutações em FLT3, IDH1/2, TP53 e NPM1 definem subgrupos de risco e indicam terapias-alvo (midostaurina, ivosidenibe, enasidenibe) e novas combinações, como venetoclax associada a hipometilantes, ampliando as opções para pacientes idosos ou fragilizados. Na LLA, terapias como blinatumomabe, inotuzumabe ozogamicina e CAR-T cells anti-CD19 revolucionaram o tratamento dos refratários e recidivados, atingindo taxas de remissão molecular e sobrevida livre de doença em 3 anos superiores a 50% em subgrupos selecionados. O transplante alogênico segue como principal estratégia para pacientes de alto risco, mas a indicação vem sendo redefinida com base na resposta molecular mensurável (MRD).
Discussão e conclusãoHá uma transição clara do paradigma tradicional, baseado em morfologia e quimioterapia, para um modelo molecular e personalizado, com biomarcadores e plataformas genômicas guiando a terapia. A incorporação de imunoterapia e monitoramento por MRD permite remissões mais profundas e redução da toxicidade, ampliando as chances de cura mesmo em pacientes não elegíveis ao transplante. Ainda assim, o acesso universal, custo e seguimento prolongado são desafios especialmente relevantes no Brasil. As leucemias agudas ilustram o impacto da medicina de precisão na hematologia. O entendimento refinado das vias moleculares e a incorporação de novas terapias modificaram de forma concreta o prognóstico. A atualização permanente do hematologista, pautada em evidências, é fundamental para decisões mais seguras e eficazes.
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