HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosQueimaduras de espessura total são clinicamente desafiadoras devido à destruição tecidual e à limitada regeneração da pele. Hidrogéis à base de Gellan Gum (GG) apresentam biocompatibilidade e estrutura semelhante à matriz extracelular, sendo promissores para engenharia tecidual. A incorporação de células-tronco mesenquimais (CTMs) potencializa a regeneração, promovendo adesão celular, modulação inflamatória, angiogênese e reorganização do colágeno.
ObjetivosAvaliar o efeito biológico de hidrogel esponjoso de GG funcionalizado com CTMs no reparo de queimaduras de espessura total em ratos, com foco em parâmetros morfológicos, morfométricos e organização do colágeno tipo I.
Material e métodoDoze ratos Wistar (250–300 g) foram divididos em grupo controle (GC) e grupo tratado com hidrogel funcionalizado contendo CTMs (GH). Após anestesia (cetamina 95 mg/kg e xilazina 12 mg/kg, i.p.) e tricotomia dorsal (4 × 5 cm), induziu-se queimadura de espessura total por contato com placa de alumínio (3 cm de diâmetro; A = 7,1 cm²; 150°C, 5 s). Após a lesão, foi administrada dipirona (6,2 mg/kg). Hidrogéis de GG funcionalizados com DVS-RGD foram liofilizados em discos (3 cm × 2 mm) e incorporados com CTMs cultivadas em α-MEM com soro fetal bovino e antibiótico/antimicótico. Os hidrogéis foram aplicados sobre a lesão e cobertos com Tegaderm™. Após 21 dias, os animais foram eutanasiados para coleta de tecidos e imagens. A taxa de cicatrização foi avaliada via ImageJ®. Amostras foram coradas com HE e Picrosirius Red para análise de infiltrado inflamatório, espessura epidérmica e colágeno; a expressão de colágeno tipo I foi avaliada por imunofluorescência. Estudo aprovado pelo CEUA (n° 5931/2024).
ResultadosAo longo do período experimental, o GH apresentou percentual de cicatrização significativamente superior (90,8 ± 4,05%) em relação ao GC (71,79 ± 6,24%; p = 0,0012). Ao 21° dia, observou-se no GH redução estatisticamente significativa do infiltrado inflamatório (p = 0,016), maior organização das fibras colágenas e neovascularização mais evidente. A análise histomorfométrica evidenciou menor espessura epidérmica no GH (25,26 ± 5,45 µm) quando comparado ao GC (47,57 ± 15,01 µm; p = 0,0033). A coloração por Picrosirius Red demonstrou colágeno mais uniformemente distribuído no GH. A imunofluorescência para colágeno tipo I revelou maior expressão no GH (80,18 ± 8,88%) em comparação ao GC (45,70 ± 7,87%; p = 0,038), indicando que o tratamento com hidrogel potencializou a maturação e a organização tecidual.
Discussão e conclusãoOs resultados demonstraram que o uso do hidrogel funcionalizado com CTMs promoveu aceleração significativa da cicatrização de queimaduras de espessura total, com evidências de regeneração tecidual qualitativa. Observou-se redução do infiltrado inflamatório, aumento da neovascularização e melhora na organização e maturação das fibras colágenas. A menor espessura da epiderme regenerada, aliada à predominância de colágeno tipo I, indicou um processo de remodelação mais avançado, compatível com a formação de um tecido funcional e estruturalmente mais próximo ao tecido nativo. Esses achados sugerem que a aplicação do hidrogel com CTMs não apenas acelera o fechamento da ferida, como também modula positivamente as fases da cicatrização, favorecendo um reparo mais eficiente e com menor risco de fibrose. Os achados contribuem para a validação do uso de CTMs incorporadas a biomateriais como estratégia no tratamento de queimaduras extensas.




