
A resposta imune à infecção por SARS-CoV-2 durante o período gravídico puerperal e as alterações que podem aumentar o risco de complicações maternas, fetais e neonatais ainda não são bem caracterizadas. Para isso, foram determinados, através de citometria de fluxo, níveis periféricos de linfócitos T-totais (CD3+), T-auxiliar (CD3+/CD4+), T-citotóxico (CD3+/CD8+), linfócitos B (CD19+), células NK (CD16+/56+) e NKT (CD3+/CD16-56+) em gestantes e puérperas com suspeita de COVID-19 com o objetivo de identificar potenciais alterações imunológicas induzidas pelo coronavírus. Foram utilizadas amostras de sangue periférico de mulheres que realizaram RT-PCR para COVID-19 entre maio de 2021 e março de 2022. As amostras foram coletadas em três maternidades públicas do Rio Grande do Norte na admissão para parto e no puerpério imediato nos casos suspeitos. O sangue foi coletado em tubos contendo EDTA para a realização da citometria de fluxo, utilizando o analisador de fluorescência celular ativado (FACScan) e o software Cell Quest. Os linfócitos foram identificados por alta expressão de CD45 e baixa dispersão lateral, utilizando as seguintes combinações de 3 cores de anticorpo monoclonal: isotiocianato de uoresceína (FITC), ficoeritrina (PE) e Proteína Clorofila Piridina (PerCP). Cinquenta mulheres precisaram realizar o RT-PCR e 32 (64%) testaram positivo para COVID-19. Gestantes e puérperas infectadas pelo SARS-CoV-2 apresentaram níveis elevados de células T citotóxicas, mediana (ME) = 495,0; intervalo interquartil (IIQ) = 391,5, quando comparadas com pacientes não infectadas, ME=356,2; IIQ=297,8; p=0.032. Com relação a quantidade das células NK, ME=159,1; IIQ=220,4, e dos linfócitos B, ME=126,7; IIQ=186.4, as contagens foram significativamente mais baixas no grupo com menos de 30 dias de infecção, em comparação com o grupo em que o RT-PCR foi negativo, ME=280,8; IIQ=214,9; p=0,021 e ME=323,9; IIQ=365,5; p=0,045, respectivamente. Gestantes e puérperas com COVID-19 apresentam maior número de linfócitos T citotóxicos no sangue periférico e menor número de células NK e linfócitos B. Considerando que gravidez e pós-parto alteram fisiologicamente o sistema imunológico e que esse estudo transversal não permite analisar causalidade entre infecção e alterações celulares, mais estudos são necessários para elucidar as alterações causadas pela COVID-19 no sistema imunológico durante o período gravídico puerperal, para confirmar se a infecção viral compromete a imunidade, aumentando o risco de complicações para o binômio mãe-feto. Declaramos que não houve apoio financeiro e (ou) material recebido para o desenvolvimento deste trabalho.