Objetivos: As premissas básicas da transfusão mudaram de forma importante nas últimas décadas. Existem dois indicadores muito utilizados atualmente para definição de transfusão adequada de concentrados de hemácias (CH): transfusão de apenas um CH por vez e transfusão com hemoglobina (Hb) abaixo de 7–8 g/dL em pacientes sem sangramento. Este estudo teve o objetivo de avaliar a evolução nas práticas de uso racional de hemocomponentes em um hospital universitário do Nordeste. Material e métodos: Trata-se de estudo retrospectivo de uso racional de CH em hospital de ensino de janeiro de 2013 a dezembro de 2019. Os dados referentes à prescrição de CH por requisição de transfusão (RT) foram retirados do sistema informatizado do HEMOCE e divididos em transfusão de 1 ou mais CH. A avaliação da Hb pré-transfusional em pacientes sem sangramento foi feita de forma prospectiva desde 2017 pela avaliação das RT recebidas pela agência transfusional. Resultados: Houve um aumento progressivo das internações no período avaliado, de 7942 em 2013 a 8592 em 2019. Apesar disso, percebeu-se uma redução no número de transfusões de CH/internação, de 0,36 para 0,28 ao longo dos anos, sem alterações de mortalidade e tempo de internação. Em relação à transfusão de um CH por vez, houve aumento progressivo, saindo de 68% em 2013 até 88% em 2019. Esse valor abrange inclusive os pacientes com sangramento, já que o motivo da transfusão não foi avaliado neste estudo. Em relação às transfusões com Hb abaixo de 8 g/dL, a média em 2017 foi de 98,2%, com aumento até 99,8% em 2019, com as principais indicações fora do protocolo sendo cardiopatias e eventos isquêmicos recentes. Discussão: Transfusão é um dos procedimentos médicos mais realizados. Atualmente, em paciente sem sangramento grave, é recomendada a transfusão de um único CH com reavaliação posterior. A indicação de transfusão deve ser baseada não somente na Hb, como também na etiologia da anemia, sintomatologia e comorbidades do paciente. O Hospital Universitário Walter Cantídio promove ensino, pesquisa e assistência terciária à saúde e conta com 198 leitos de várias especialidades, incluindo transplante de órgãos sólidos e de medula óssea. No final de 2014, foi implementado no hospital um programa mais robusto de Patient Blood Management (PBM) com revisão retrospectiva das requisições de transfusão e ações educacionais gerais e individualizadas aos médicos prescritores. Dicas de transfusão foram divulgadas por e-mail, WhatsApp e televisões institucionais. Além disso, iniciou-se programa permanente de revisão e divulgação dos protocolos de uso racional de hemocomponentes e prescrição de ferro endovenoso. Apesar de ser um hospital de ensino, com mudança frequente dos alunos e residentes que passam pelo hospital, percebe-se que as auditorias, a discussão dos casos e a educação permanente têm impacto significativo e duradouro nas práticas de uso racional de hemocomponentes. Conclusão: As evidências atuais mostram que a estratégia restritiva reduz a necessidade de transfusão de hemocomponentes e a morbidade relacionada a ela. Implementação de práticas de PBM e divulgação de uso racional de hemocomponentes devem ser prioridades nos hospitais e sua rotina em um hospital de ensino pode ter repercussões positivas em outros serviços, ao formar profissionais com um entendimento mais adequado das práticas transfusionais atuais.
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