
a coagulopatia da leucemia promielocítica aguda (LPA) é responsável por uma taxa extremamente alta de sangramento e morte precoce em um grupo de pacientes que apresenta um prognóstico de longo prazo melhor em comparação com outras formas de leucemia mieloide aguda (LMA). Recentemente, a expressão de podoplanina (PDPN), uma proteína que medeia a ativação plaquetária em contextos inflamatórios, por células leucêmicas foi descrita como relevante nessa coagulopatia.
ObjetivoExplorar se os níveis circulantes de PDPN podem ser usados como um biomarcador de LPA e se seus níveis estão associados a marcadores clínicos ou laboratoriais de ativação plaquetária e de coagulação em LPA.
Materiais e métodosas amostras foram obtidas de pacientes consecutivos com LPA no momento do diagnóstico no Hospital das Clínicas da Unicamp. Amostras do biobanco de 35 pacientes com outras LMAs pareadas por idade e sexo foram usadas em análises comparativas. Os dados clínicos e laboratoriais foram extraídos dos prontuários. Os níveis circulantes de PDPN foram medidos no plasma (EDTA) usando um kit Elisa comercial. Biomarcadores de ativação plaquetária e de coagulação foram medidos usando ensaios imunológicos multiplex. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e todos os participantes forneceram consentimento informado por escrito.
Resultadosos pacientes com LPA estão classificados em grupos de riscos, sendo eles baixo (3 pacientes), intermediário (17 pacientes) e alto (15 pacientes). A frequência de sangramentos, sangramento de SNC e trombose foi respectivamente de 31%, 11% e 8,5%. O fibrinogênio foi menor nos pacientes com LPA quando comparado as outras formas de LMA (115,4 (52,2-376,0) vs 383,2 (147,6-638,2) mg/dL, U = 30,00; p < 0,0001). O teste de Mann-Whitney mostrou que os níveis de PDPN foram significativamente maiores nos pacientes com LPA em comparação com outras formas de LMA (16,4 (0,5-120,5) vs 2,4 (0,37-238,9) ng/mL, U = 399,00; p = 0,01). Os níveis de P-selectina (7.194 (2.213-30.650) vs 11.292 (2.792-235.307) pg/mL, U = 357,00; p = 0,002) e CD40 ligante (100,4 (13,7-559,8) vs 196,6 (89,6-575,9) pg/mL, U = 276,00; p = 0,002) foram menores nos pacientes com LPA quando comparados as outras formas de LMA. Dentre os parâmetros testados, a PDPN correlacionou-se com o biomarcador clássico de ativação plaquetária (CD40L) em pacientes com LPA (RS = 0.603; p = 0,0004). No entanto, os níveis de PDPN não foram associados ao desenvolvimento de sangramento ou trombose entre os pacientes com LPA nesta coorte.
Discussão e conclusãoos níveis circulantes de PDPN são mais elevados em LPA e correlacionam-se com evidências laboratoriais de ativação plaquetária. Estudos adicionais são necessários para confirmar esses achados e para explorar ainda mais a associação de PDPN com a apresentação clínica de coagulopatia na LPA.