
A criopreservação de células progenitoras hematopoiéticas consiste em uma estratégia que é/foi muito utilizada principalmente no transplante autólogo. Porém, a falta de consenso na padronização dos processos resulta em diferentes protocolos de acordo com as validações internas, tendo como principais variáveis: concentração dos agentes crioprotetores, concentração das células nucleadas e a utilização de diferentes soluções. Além disso, aspectos como tempo de tratamento e custos operacionais precisam ser pensados para fins de otimização dos recursos, de tal maneira que o transplante a fresco (com infusão 48h após a coleta) também é uma realidade. Objetivo: O presente trabalho analisou dados retroativos de amostras criopreservadas de pacientes tratados para Mieloma Múltiplo (MM), visando analisar criticamente aspectos referentes ao manejo do produto. Material e métodos: Analisou-se um banco de dados a partir de informações retroativas de pacientes de MM que realizaram transplante autólogo com produto criopreservado entre os anos de 2000 a 2020; e pacientes que realizaram transplante a fresco a partir de 2022. Foram analisadas diferentes variáveis, incluindo: aspectos clínicos e sociais, diferentes soluções crioprotetoras (meio 199, meio RPMI 1640, solução de HES + albumina, e HES 6%), viabilidade (por trypan e 7-AAD), análise de ensaios de proliferação celular (CFU-GM – por soft Agar e/ou metilcelulose) e quantificação de células mononucleares por microscopia óptica. Os resultados encontrados foram analisados estatisticamente usando o software GraphPad Prisma. Resultados: Foram analisadas 401 amostras de pacientes, nos quais 225 eram no sexo masculino com idade média de 53,18 (27–71) anos e 176 do sexo feminino com idade média de 55,78 (32‒70) anos. As médias de viabilidade analisadas por azul de trypan nos produtos criopreservados em cada uma das soluções foi de: 85,65% (60,59–98,76) para meio 199; 84,86% (46,80–98,80) para RPMI; 83,09% (70,40–92,76) para HES + albumina; e 87,92% (75,60–95,09) para HES a 6%. Não sendo detectável diferença estatisticamente significante entre essas variáveis (teste ANOVA; p = 0,1509). Quando é observada a diferença entre as médias de viabilidade pré e pós descongelamento, observa-se a variação de 14,10 no meio 199; 14,42 no meio RPMI; 16 no meio HES + albumina e 12,17 no meio HES 6% (p = 0,0858; Kruskal-Wallis test). Com relação a capacidade proliferativa dos produtos pós descongelamento por tipo de solução, a média dos valores foram de: 301,2 (13‒5710) para o meio 199; 211,7 (4‒5625) para o RPMI; 122,8 (26–393) para HES + albumina e 555,5 (13–2421) para o meio HES, mostrando uma diferença estatisticamente significativa para o meio HES 6% (p < 0,0001; one-way ANOVA). Para todas as condições de congelamento testadas o tempo de pega permaneceu com a média em 11 (7–19) dias. Discussão: É necessário que cada instituição avalie o tempo de armazenamento das bolsas, visando os custos de manutenção versus a utilização e qualidade do produto. Outro aspecto a ser considerado é a viabilidade do produto descongelado, que deverá ser reavaliada por citometria de fluxo, uma técnica mais sensível e que evidenciará a morte celular de acordo com as subpopulações. Conclusão: Apesar de não serem observadas alterações na viabilidade por trypan nas amostras congeladas com diferentes soluções, observou-se que produtos criopreservados com HES 6% apresentaram menor variação quanto ao seu referencial pré-criopreservação. Com isso, percebe-se que a implementação dessa solução gera menor perda na qualidade do produto.