
Anafilotoxinas são pequenos polipeptídios liberados na clivagem de seus respectivos precursores do sistema complemento. Estudos recentes sugerem que as anafilotoxinas podem manter a inflamação crônica, promovendo um microambiente imunossupressor, induzindo a angiogênese, e aumentando o potencial metastático. Contudo, seu papel em neoplasias hematológicas ainda permanece pouco explorado.
ObjetivoDessa forma, o presente estudo buscou analisar as concentrações das anafilotoxinas C3a, C4a e C5a no compartimento da Medula Óssea (MO) e Sangue Periférico (SP) de pacientes pediátricos recém-diagnosticados com Leucemia Linfoblástica Aguda de células B (LLA-B) submetidos à quimioterapia de remissão.
Material e métodosTrata-se de estudo observacional, longitudinal e prospectivo, realizado na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (HEMOAM), centro de referência para diagnóstico e tratamento de doenças onco-hematológicas na região Norte. A população de estudo foi constituída por 13 pacientes pediátricos com LLA-B, dos quais foram coletadas amostras de MO e SP ao diagnóstico (D0) e ao final da terapia de indução da remissão (D35). Também foram coletadas amostras de SP de 12 crianças sem leucemia que compuseram o grupo controle (GC). Posteriormente, foram quantificadas as concentrações das anafilotoxinas C3a, C4a e C5a através da técnica de Citometria de Fluxo, utilizando o kit CBA Human Anaphylatoxin (BD Biosciences). Através do software FCAP-Array (v3.0) foi realizado o cálculo para obtenção das concentrações de cada anafilotoxina. Os gráficos e análises estatísticas foram desenvolvidas utilizando o software GraphPad Prism (v8.2).
Resultados e discussãoNossos dados demonstraram que entre as anafilotoxinas avaliadas, a C5a foi a que apresentou níveis mais elevados na MO e SP. Quando comparado os níveis das anafilotoxinas nos compartimentos avaliados ao D0, foi observado aumento significativo de C3a e C5a na MO. Em adição, foi observado uma diminuição de C4a e aumento de C5a no SP dos pacientes com LLA-B em comparação ao GC. Por fim, através da avaliação da cinética de produção, foi observado que ao D35 houve um aumento significativo de C3a e C4a no SP, juntamente com um aumento de C4a na MO. O aumento nos níveis de C3a e C5a podem ser indicativos da inflamação crônica devido a presença de células leucêmicas no momento do diagnóstico. Além disso, estudos sugerem uma possível contribuição das anafilotoxinas na motilidade das células leucêmicas do compartimento medular para a circulação. Ao avaliar a cinética de produção, era esperado um declínio nos níveis das anafilotoxinas, no entanto foi observado um aumento, que pode estar relacionado: I) À geração das anafilotoxinas por enzimas liberadas por células hospedeiras locais; II) Possível inflamação estéril induzida por quimioterapia ou infecções por microrganismos; ou III) Papel fisiológico das anafilotoxinas na homeostase do organismo.
ConclusãoAssim, concluímos que as alterações na concentração das anafilotoxinas dos tempos estudados podem ser indicadores do processo de resposta inflamatória durante o tratamento da LLA. No entanto, estudos adicionais são necessários para a investigar o significado do aumento no nível das anafilotoxinas, bem como seu valor prognóstico durante o tratamento quimioterápico.