HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA doença falciforme é uma condição hematológica, genética e hereditária caracterizada por uma mutação no gene da β globina, que resulta na síntese de uma hemoglobina variante, a hemoglobina S (HbS). Em determinadas condições adversas se polimeriza alterando a sua morfologia discóide levando a complicações da doença como crises vaso-oclusivas.
ObjetivosAvaliar o papel da formação das NETs e a expressão de TRL2 e TRL4 em crianças com doença falciforme.
MetodologiaParticiparam deste estudo 24 crianças diagnosticadas com doença falciforme, divididas de acordo com os genótipos (HbSS × HbSC). As amostras de sangue foram obtidas durante a coleta de exames de rotina ambulatorial. Os neutrófilos foram isolados, estimulados com PMA 1:1000 (exceto controles negativos) e incubados em estufa a 37 °C por 4 horas. A identificação de neutrófilos ativados foi realizada pela marcação CD66a positiva. A avaliação da NETose e a quantificação dos receptores TLR2 e TLR4 foi realizada por citometria de fluxo, com auxílio dos marcadores Sytox Orange, anti-TLR2 (FITC) e anti-TLR4 (PE) humano. Os resultados foram considerados significativos quando p < 0,05.
ResultadosA mediana da idade dos participantes foi 7 anos (mínimo 1- máximo 13 anos) e 54% pertenciam ao sexo masculino. Metade dos pacientes apresentavam o genótipo HbSS e a outra metade, o genótipo HbSC. Os resultados da citometria mostram que os neutrófilos de indivíduos HbSS apresentam maior ativação que os neutrófilos de pacientes HbSC sob estímulo (p = 0,0051). Contudo, a capacidade de NETose foi maior no grupo HbSC sob estímulo (p = 0,0005), sugerindo diferenças funcionais nos neutrófilos. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na quantificação dos receptores TLR2 e TLR4 entre os dois genótipos (p = 0,88 e p = 0,15, respectivamente).
DiscussãoOs dados demonstraram que os neutrófilos de indivíduos com genótipo HbSS apresentam maior ativação quando comparados aos neutrófilos de pacientes HbSC, o que está de acordo com estudos prévios, que associam a ativação exacerbada dos neutrófilos de indivíduos HbSS ao ambiente inflamatório crônico, impulsionado pela hemólise e pelo estresse oxidativo. Esse perfil hiperativado dos neutrófilos no HbSS está diretamente relacionado à gravidade clínica desse genótipo, refletindo maior risco de eventos inflamatórios e vaso-oclusivos. Por outro lado, a análise da formação de NETs revelou que os neutrófilos do grupo HbSC, embora apresentem menor ativação, exibiram uma maior capacidade de NETose sob estímulo, o que sugere que a menor exposição ao estresse inflamatório preserva a funcionalidade dessas células. Apesar de TLR2 e TLR4 estarem associados à modulação da resposta inflamatória na doença falciforme, não foram observadas diferenças em suas quantificações e os genótipos estudados no presente trabalho. Isso sugere que esses receptores não parecem ser os principais determinantes das diferenças observadas na ativação neutrofílica ou na capacidade de NETose observadas no presente estudo, reforçando a hipótese de que as alterações funcionais dos neutrófilos na doença falciforme possam estar mais relacionadas ao ambiente inflamatório sistêmico e ao estresse oxidativo do que à diferença na expressão de receptores na superfície celular.
ConclusãoO presente estudo conclui que o genótipo HbSS possui maior ativação de neutrófilos, no entanto, indivíduos HbSC apresentam maior capacidade de formação de NETs.
Apoio Financeiro: FAPEMIG (APQ-02627- 21).




