A Medicina Transfusional é a área da Hematologia relativamente recente e muitos dos avanços no campo da medicina foram alcançados graças a melhor conhecimento dessa área da Hematologia. Por outro lado, esse conhecimento não é uniforme e a ausência desse dentre os profissionais médicos e não médicos pode acarretar riscos ao paciente. Com o objetivo de se avaliar o grau de conhecimento dos médicos residentes recém-admitidos em programa de residência médica de um hospital-escola foi realizado essa pesquisa.

Na unidade hospitalar há diversos programas de residência médica em áreas clínicas e cirúrgicas, adulto e pediátrica e de subespecialidades clínicas e cirúrgicas. O questionário possuía as perguntas relacionadas à capacitação prévia do médico acerca do tema transfusão sanguínea na graduação ou na residência médica prévia. Foi perguntado se o profissional se sentia seguro em prescrever assim como se já prescreveu hemocomponentes anteriormente. Em caso de positivo quais eram os prescritos por aquele profissional. Perguntava ainda se os residentes eram dotados do conhecimento de indicação de leucodepleção, lavagem e irradiação de hemocomponentes e se havia interesse no profissional em buscar o conhecimento por meio de atualização em hemoterapia ou se recorria ao hematologista/hemoterapeuta para responder alguma dúvida. Os dados foram compilados em planilha eletrônica de uso comercial, a análise estatística descritiva e cálculos estatísticos foram realizados por meio do Graphpad Prism.

Foram respondidos pelos médicos residentes 124 questionários, dos quais 85 (68,54%) já haviam solicitado transfusão em algum momento da atividade médica. A maioria referiu ter apresentado algum tipo de capacitação prévia em hemoterapia (58,92%). Os recém-admitidos residentes médicos não se sentem seguros ao prescrever algum hemocomponente (66,95%). Avaliando-se a relação entre a ausência de treinamento em medicina transfusional e insegurança na prescrição de hemocomponente notou-se a chance de quase 2,5 vezes mais insegurança dentre os que não tiveram capacitação prévia (p=0,0021). Dentre os hemocomponentes prescritos pelos médicos o concentrado de hemácias foi o mais respondido (83,06% prescreveram) seguido pelo concentrado de plaquetas, prescrito por 20,97%. Plasma fresco e crioprecipitado foram prescritos por 11,29% e 1,61%, respectivamente. Sobre os chamados hemocomponentes especiais a maioria não sabia a indicação de cada um desses. Os resultados mostraram que 57,26%, 70,16% e 86,29% dos residentes desconhecem as indicações de hemocomponentes leucodepletados, lavados e irradiados, respectivamente. Quase todos (97,58%) os respondedores concordaram da necessidade de se ter na rotina de atualização científica da unidade conteúdos sobre a medicina transfusional. A maioria recorre a orientação por profissional especializado para dirimir questionamentos específicos (67,74%) enquanto 11,29% não recorrem e 19,35% desconhecem da presença desse profissional onde atuam. Avaliando os que não recorrem a auxílio a maioria teve capacitação, porém não houve diferença significativa (p = 0,10).

A Medicina Transfusional é um campo médico relativamente novo e o conhecimento específico, de grande relevância na atuação médica, não é de divulgação ampla. Isso torna, conforme dados apresentados, o profissional mais inseguro e desconhecedor de indicações de uso de determinados hemocomponentes que trazem mais segurança ao ato transfusional. O estudo revela que para os residentes recém-admitidos há necessidade de programas de atualização e aperfeiçoamento médico com conteúdo voltado para essa área de atuação a fim de tornar a transfusão sanguínea mais racional e segura.