
O cenário terapêutico para a Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) mudou significativamente com a aprovação de novos agentes. Compreender os testes prognósticos atuais e as práticas de tratamento nesta nova era é fundamental. O desafio dos serviços públicos brasileiros é adaptar as novas descobertas a realidade de disponibilidade de exames e medicações quimioterápicas.
ObjetivoDescrever uma série de pacientes com Leucemia Linfocítica Crônica (LLC).
Materiais e métodosEstudo observacional retrospectivo através da análise dos prontuários digitais de pacientes adultos atendidos no Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini-Hospital Brigadeiro. Critérios de inclusão: 1) pacientes com idade superior a 18 anos com diagnóstico de LLC; 2) dados disponíveis no prontuário digital.
Resultados/DiscussãoEntre janeiro de 2000 e julho de 2022, 435 pacientes com diagnóstico de LLC foram seguidos em nosso ambulatório. A mediana de idade ao diagnóstico foi de 71,5 anos (variação:38-91) e 51% eram do sexo feminino. Sessenta e cinco por cento eram Binet A, 20% eram Binet B e 15% eram Binet C. Avaliada em 281 pacientes, a Beta-2-microglobulina estava elevada em 62% dos casos. Cariótipo foi realizado em 95 pacientes (22%), com os seguintes resultados encontrados: normal em 39 pacientes (41%), trissomia do 12 em 15 pacientes (16%), deleção do 13q em 3 pacientes (3%), deleção do 11q em 1 paciente (1%), outras alterações não relacionadas as LLC em 11 pacientes (12%) e cariótipo complexo em 2 pacientes (2%). Em alguns casos, foram encontradas mais de uma alteração. Em 32 casos (34%), o cariótipo não teve metáfases. FISH para deleção do 17p, realizado em 51 pacientes (12%), foi normal em 96% e com del17p em 4%. A pesquisa de mutação do gene TP53 foi avaliada em 11 pacientes (2,5%) e nenhum apresentou a mutação. A pesquisa de hipermutação somática do IgHV, realizada em 35 pacientes (8%), revelou IgHV mutado em 31% dos testados, não mutado em 63% e inconclusivo em 6%. Entre os 161 pacientes com indicação de tratamento registrada, os motivos mais comuns para o início do tratamento foram citopenias em 58%, sintomas constitucionais em 28% e linfadenopatia sintomática em 22%. Outras indicações: linfocitose progressiva em 14%, esplenomegalia sintomática em 9%, e doença extranodal e complicações autoimunes refratárias a esteroides em 3%. Alguns pacientes possuíam mais de uma indicação de tratamento. Entre os 175 pacientes que receberam tratamento, os esquemas de primeira linha mais comumente usados foram: terapias baseadas em CVP/CHOP (61 pacientes – 35%), terapias baseadas em clorambucil (56 pacientes – 33%), terapias baseadas em fludarabina (49 pacientes – 28%), terapias baseadas em altas doses de corticoide (3 pacientes – 2%). Rituximabe foi usado em associação ao esquema de base em 77 pacientes (45%). Ibrutinibe, acalabrunitibe e bendamustina associada com rituximabe foram utilizados por 01 paciente, cada.
ConclusãoDados do mundo real podem melhorar nossa compreensão dos padrões de prática fora dos ensaios clínicos e gerar discussões sobre as dificuldades encontradas na prática diária com foco no aprimoramento da assistência aos pacientes.