
Segundo a Portaria de Consolidação nº5/2017, os serviços de hemoterapia devem adotar procedimentos de retrovigilância quando a triagem sorológica em um doador de sangue, com sorologia negativa em doações prévias, for reagente (positivo ou inconclusivo). Dentre as ações está a retestagem na mesma amostra da doação para confirmação do resultado inicial devendo ser realizada com kits de diferentes marcas ou metodologias, para minimizar a ocorrência de testes falso positivos (FP). Este estudo teve como objetivo avaliar a concordância entre os resultados obtidos na triagem sorológica inicial e testes complementares que atendam a legislação vigente.
Material e métodoForam avaliadas amostras de doações de sangue realizadas no Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e unidades externas atendidas por este no período de 06/2022 a 07/2024. Todas as amostras, independente do número de doações, com resultados reagentes na triagem sorológica por quimioluminescência (CMIA) para os marcadores HBsAg, anti-HBc, HTLV I/II e anti-HCV foram retestadas por eletroquimioluminescência (ECLIA) em laboratório de apoio externo. Para a CMIA, consideraram-se resultados inconclusivos valores entre 0,9 a 1,1 RLU/C e positivos resultados acima de 1,1 RLU/C. Os resultados em ECLIA foram reportados seguindo as orientações do fabricante. Os dados foram obtidos utilizando o Portal de Sistemas do próprio Hemocentro de maneira consolidada e anonimizada.
ResultadosForam testadas 134.041 amostras de doadores no período estudado, destas 1.978 (1,5%) apresentaram sorologia reagente, sendo 491 (24,8%) inconclusivas e 1.487 (75,2%) positivas. Das amostras reagentes em CMIA para anti-HBc, 75,9% foram reagentes em ECLIA, 10,4% em anti-HCV, 10,8% em HBsAg e somente 8,2% das amostras reagentes para HTLV I/II foram reagentes com ECLIA. Quanto aos resultados positivos, o anti-HBc apresentou maior concordância (85,5%) entre CMIA e ECLIA, enquanto HBsAg, anti-HCV e HTLV I/II apresentaram 15,7%, 11,9% e 12,5%, respectivamente. Quando comparados os inconclusivos em CMIA, observamos concordância de 15,5% para anti-HBC, seguido de 7% anti-HCV, 4,4% HBsAg e 2% HTLV I/II quando retestados por ECLIA. Quando são avaliados os doadores com mais de uma doação, a reatividade na segunda metodologia para os marcadores avaliados neste estudo foi encontrada em 13,6% das amostras.
DiscussãoA redução do número de resultados concordantes entre CMIA e ECLIA indica um provável aumento no número de resultados FP na triagem considerada inconclusiva, sendo esperada nesta metodologia utilizada.
ConclusãoObservamos variações nas concordâncias encontradas entre os marcadores que podem estar relacionadas às metodologias dos testes e a prevalência dos marcadores na população. Com a realização de um segundo teste e consequente aumento de valor preditivo positivo da triagem inicial, nas amostras em que houve concordância, foi possível identificar mais assertivamente os casos cuja retrovigilância deve ser realizada e permitir uma orientação mais adequada dos doadores com possibilidade de acompanhamento dos FP e potencial reentrada destes.