
Avaliar a associação entre as características clínicas e socioeconômicasde pacientes com mieloma múltiplo (MM).
Material e métodosColeta retrospectiva de dados clínicos, radiológicos e socioeconômicos de pacientes com MM, com diagnóstico de jan/15 a dez/19, acompanhados no Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE).
ResultadosDentre os 35 casos incluídos nessa análise parcial, 57% tiveram o diagnóstico entre 2015-2017, 60% eram do sexo feminino, a mediana de idade foi de 69 anos, 63% tinham performance status 3-4, e 60% foram classificados como ISS III. Anemia, injúria renal e hipercalcemia ocorreram em 77, 43 e 31% dos casos, respectivamente. Radiografia óssea foi realizada em 51% pacientes, e alterações foram notadas em 94% dos casos. Dados de tomografia computadorizada foram obtidos em 40% dos prontuários, com 94% dos exames alterados. Onze (17%) indivíduos realizaram ressonância, e lesões focais foram vistas em 64% dos casos. O tempo de seguimento mediano foi de 15 meses, variando de 1 mês a mais de 5 anos. Dentre os casos com ISS I, II e III, o tempo de sobrevida mediano, em anos, foi 2,73, 2,23 e 1,08, respectivamente, e 77% dos casos analisados já foram a óbito: 63% por consequência da doença e/ou de infecção, sendo que três pacientes faleceram antes mesmo de iniciarem o tratamento.
DiscussãoHá poucos dados epidemiológicos do MM no Brasil. Na amostra inicial estudada, observou-se menor sobrevida mediana quando comparada a dados mundiais. Foi observado que a maior parte dos casos de MM ao diagnóstico já se encontra em estágio avançado, com anemia, hipercalcemia, disfunção renal e/ou alterações osteolíticas na radiografia simples. Talvez as novas técnicas laboratoriais e radiológicas ainda não tenham o impacto que vem sendo observado nos estudos internacionais. Apenas um paciente não tinha lesão de órgão-alvo e teve o diagnóstico de MM por conta de plasmocitose medular ≥ 60%. Esse perfil de paciente, com doença avançada ao diagnóstico, é comum nos serviços públicos de saúde no Brasil, o que pode demonstrar a fragilidade social e financeira dessa população. Essas questões serão mais bem avaliadas com a aplicação de questionário específico, aos pacientes e às famílias, para o levantamento do status socioeconômico individualmente.
ConclusãoA evolução nas técnicas diagnósticas e terapêuticas no campo das neoplasias, visando diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes, não atinge de forma homogênea todos os pacientes, pois vários fatores influenciam na oportunidade de diagnóstico e no acesso ao cuidado. Os achados iniciais deste estudo mostram um pouco da gravidade dos casos de MM atendidos em hospital público de uma grande cidade brasileira. O aumento do número de pacientes no estudo, incluindo aqueles acompanhados em instituições privadas, e a aplicação de um questionário específico sobre classes sociais, permitirão melhor avaliação da associação entre as características socioeconômicas e os aspectos clínico-radiológicos ao diagnóstico, assim como melhor compreensão dos desfechos do tratamento da doença no Brasil.