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Vol. 44. Núm. S2.
Páginas S52-S53 (Outubro 2022)
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AVALIAÇÃO COGNITIVA DE PACIENTES ADULTOS COM DOENÇAS FALCIFORMES: O IMPACTO DAS CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CORRELAÇÕES COM ACHADOS DE NEUROIMAGEM
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PJF Silvaa, CM Silvaa, BM Camposb, PM Camposa, SS Medinaa, A Lamonicaa, F Cendesb, FF Costaa, STO Saada, BD Benitesa
a Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil
b Laboratório de Neuroimagem, Departamento de Neurologia, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil
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Objetivos

Pacientes com Doenças Falciformes (DF) possuem maior risco de infartos cerebrais silenciosos, que podem levar a importantes déficits cognitivos, e cujo reconhecimento é primordial para a criação de planos terapêuticos direcionados. Este estudo pretendeu rastrear a presença de déficits cognitivos nesses pacientes através do Montreal Cogntive Assessment (MoCA) e buscar possíveis preditores de sua ocorrência.

Material e métodos

Este estudo prospectivo incluiu 124 pacientes adultos com DF em seguimento no Hemocentro UNICAMP entre 2018 e 2021. O questionário MoCA foi aplicado a fim de detectar déficit cognitivo (pontuação ≤ 24 de um total de 30 pontos) através da análise de 7 domínios: viso-espacial, executivo, atenção, concentração, memória executiva, linguagem e orientação. Os dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais dos pacientes foram avaliados para possíveis associações com os resultados do MoCA. A análise de ressonâncias magnéticas através de avaliação morfométrica voxel-a-voxel (VBM) também foi utilizada para estudar alterações estruturais cerebrais de 28 desses pacientes.

Resultados

124 pacientes (68 homens e 56 mulheres) foram incluídos: 79 SS; 28 SC; 10 Sβ0 e 7 Sβ+. A mediana da idade foi 44 (19-70) e a do resultado do MoCA, de 23 pontos (8-30), sendo que 87 (70%) pontuaram abaixo do limite de normalidade (25 pontos), sugerindo algum tipo de déficit cognitivo. O estudo não revelou correlações estatisticamente significativas entre os resultados do MoCA e as variáveis clínicas e laboratoriais: contagem de células sanguíneas, níveis de hemoglobina, marcadores hemolíticos e inflamatórios, genótipo, uso de hidroxiureia, carga transfusional e complicações clínicas (retinopatia, acidente vascular cerebral, necrose avascular, úlcera de perna, priapismo). Contudo, associações significativas foram encontradas com variáveis sociodemográficas. São elas: idade (r = –0,316; p < 0,001); idade ao primeiro emprego (r = 0,221; p = 0,018); renda pessoal (r = 0,23; p = 0,012); renda familiar per capita (r = 0,303; p = 0,001); escolaridade do paciente (r = 0,61; p = 0) e de seus pais (mãe: r = 0,536, p = 0; pai: r = 0,441, p = 0). Análise morfométrica da substância cinzenta de 28 desses pacientes foi comparada a grupo controle de 50 indivíduos saudáveis, sendo observadas áreas de atrofia significativas em cerebelo, lobos frontal esquerdo, occipital e temporais bilaterais. 9 desses pacientes repetiram a ressonância após um ano e foi observada evolução dessa atrofia.

Discussão

Estes resultados demonstram a alta prevalência de déficits cognitivos e o seu impacto em pacientes com doenças falciformes. Os achados dos testes cognitivos são consoantes aos da neuroimagem, com evidências de atrofia em importantes áreas cerebrais. Observou-se também a importante influência das condições sociodemográficas no desempenho cognitivo desses pacientes, através da correlação direta entre essas variáveis e os resultados do MoCA. Especula-se que o impacto desse contexto socioeconômico desfavorável seja tão expressivo que impede a observação de outras correlações com variáveis clínicas e laboratoriais.

Conclusão

Estes achados evidenciam a importância do contexto socioeconômico dos pacientes no seu desempenho cognitivo e essa correlação justifica o desenvolvimento de políticas públicas e planos terapêuticos focados nessa realidade.

O texto completo está disponível em PDF
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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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