HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA anemia falciforme (AF), desordem de hemoglobinas de caráter hereditário, é causada por uma mutação pontual no gene da globina β. A mutação leva à formação da HbS, variante estrutural da hemoglobina, que acarreta na falcização das hemácias. As hemácias falcizadas, por terem um número maior de moléculas de adesão em sua superfície, interagem com o endotélio vascular, formando radicais livres, desencadeando um quadro inflamatório, e um ambiente favorável para o desenvolvimento de complicações clínicas da AF. As metaloproteinases, enzimas proteolíticas, exercem função em processos fisiológicos como angiogênese e reparo tecidual, e se tornaram alvo de estudo como possíveis preditores de risco para o desenvolvimento de complicações clínicas na AF.
ObjetivosO objetivo desse trabalho foi analisar a associação do polimorfismo rs17576 do gene MMP9 com o desenvolvimento de manifestações clínicas características de pacientes com AF.
Material e métodosPara realização desse trabalho, foram selecionados 262 pacientes com AF maiores de 18 anos de idade, de ambos os sexos, cadastrados e acompanhados na Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco (HEMOPE). Foi realizada a análise molecular, e em seguida, com os resultados obtidos, a análise estatística.
ResultadosOs dados obtidos após análise descritiva foram: a mediana de idade da coorte foi 39 anos, sendo a idade mínima encontrada de 18 anos e a máxima 69 anos; 139 (51,5%) eram mulheres, e 132 (48,5%) eram homens. A respeito das complicações clínicas, os resultados obtidos mostraram que entre os 262 pacientes: 12,1% dos homens tiveram priapismo; 11,7% tiveram acidente vascular cerebral (AVC); 25,6% tiveram úlcera maleolar; 13,2% dos pacientes tiveram STA; 44,7% dos pacientes tiveram <3 (1-2) episódios de crise vaso-oclusiva (CVO) ao ano, 38,8% tiveram >3 (4-5) episódios ao ano, e 15,4% tiveram >6 episódios ao ano; 19,6% dos pacientes tiveram necrose asséptica de cabeça de fêmur.Os dados laboratoriais obtidos do grupo total, em mediana foram: HbF 6,60 g/dL; hemoglobina 7,8 g/dL; hematócrito 23,75%; reticulócito 9,7%; RBC 2,55 × 1012 células/μL; bilirrubina total 2,88 mg/dL; bilirrubina indireta 2,15 mg/dL; lactato desidrogenase 610,0 U/L. A frequência alélica do rs17576 encontrada foi de 33,2% do alelo G, em comparação com 66,8% do alelo A. A frequência genotípica mostrou que o genótipo dominante foi o AA, equivalente a 44,7%, o heterozigoto AG (43,8%) e o homozigoto variante GG (11,5%). Foi realizada análise com modelos de associação genética dominante, recessiva e codominante. A associação do polimorfismo rs17576 no gene MMP9 com as complicações clínicas foi realizada e não foi observada associação estatística significativa. No entanto, quando comparado aos dados laboratoriais foi observada uma associação entre heterozigotos (AG) com os níveis de reticulócito (p = 0,020), onde indivíduos com este genótipo possuíam menores níveis em comparação aos outros genótipos.
Discussão e conclusãoApós análise molecular e estatística, conclui-se que não existem associações significativas entre o polimorfismo rs17576 do gene MMP9 com complicações clínicas de pacientes com AF. No entanto, foi possível observar uma associação entre o genótipo AG e menores níveis de reticulócitos. Apesar de não ser encontrada associação significativa, estudos futuros com coortes maiores poderiam ser realizados para investigar o potencial de variantes de MMP9 na predição de risco na AF.




